A poeira saiu de baixo do tapete
Não sei como escrevo o que eu sinto neste momento, mas sei que devo escrever. Cartas, poemas, prosas, não sei, só quero imprimir no mundo todo o abstrato do meu íntimo para que ele não me imprima na cadeia de um tempo a passar. O que eu sinto por você? Eu também não sei, não sei se te odeio, se te amo, se te detesto, se te tenho carinho, mas sei que tenho marcas suas cravadas na minha alma. Às vezes, quando o vento bate, elas se magoam e dói, aí eu lembro do teu sabor na minha boca, me preenche de vazio, tua ausência me completa. Eu sei que te amei de forma errada porque me perdi na assimetria do que deveria ser linear. Depois de você, me tornei compasso descompassado, cor desaturada, céu com limite, brilho ofuscado. Se um dia você ler isso – eu espero que não. Espero que me entenda, porque eu não estou conseguindo me entender, já se foi tanto tempo. Eu transbordei, não houve catarse, eterno estado de torpor, não há momentos amenos quando envolvem resquícios de uma lembrança sua. Eu já cortei nossos laços, todavia meu ser, no conforto da minha cama, me tortura sussurrando o seu nome. Você está em todos os lugares, em todas as músicas, em todas as esquinas? Pensando bem, acho que você só ainda está dentro de mim. Te escrevo como expressão do meu desejo, seja lá qual for o meu desejo. Eu só quero vomitar esse doce veneno que você me foi dosando aos poucos com seu afago. Alguma coisa rompeu em mim, e não mais que de repente, você não mais estava lá. Eu tô melhor, eu tô me curando, eu carinhosamente vou esquecendo as feições do seu rosto que tanto esteve pregado na minha insônia.