Assim (Re)nasce Uma Deusa

Mais um dia amanhece. Eis o presente universal. Chegou minha hora sagrada, meu batismo diário... Minha intuição me conduziu a uma cachoeira. Ela chora as nossas lágrimas pra que elas chorem por nós, descartando dejetos mentais.

Havia nesse bosque peculiar ninfas dispostas em roda. Roda da fortuna, roda em sentido horário. Gira-gira que não estonteia com os vícios mais banais. Não caminham, elas só dançam. Um balé ondulante e sinuoso. Nados sincronizados. Com elas fiz o meu pacto de autoamor e confiança

Uma delas pegou uma garrafa. Não, não havia uma carta de um náufrago, era o remédio exato pra minha exata dor. Derramado o remédio nas águas, convidaram-me ao mergulho nas águas. Água pura e viva. Não se mistura ao nosso lodo gerado inconscientemente. O rio não era inabitado, havia outras ninfas. Anônimas, sem rosto, cobertas por mantos de brancura e ternura. Confundiam-se com a espuma dos meus maremotos internos. Carregavam luas cheias, pra elas leves como bolas de praia e para nós corpos mortais, algo tão pesado, de tanto carregarmos as emoções e expectativas dos outros. Eu pari uma sem eu saber! Veja a bola flutuando! E a ninfa acariciando-a... Luas paridas por tantas mulheres, dentre elas, eu mesma. Nela escondemos, sufocamos nosso potencial, manancial de pertencimento, fonte dos nossos ciclos que teimamos em violar e deixamos o outro manipular. Onde habita não só a fertilidade, mas a nossa criatividade. Somos todas mães de alguém. Não precisa ser humano. Somos todas mães de ideias tão humanas quantas nós

E então eu mergulhei no fundo do rio cristalino, ao som de preces, cânticos, benzeduras e confidências. Selado meu pacto de autoamor e bravura, sugou-se meu pranto, o suor de tanto fugir dos meus monstros e de mim mesma. Minha lua, até então apagada, recuperou enfim seu brilho. Meus ciclos se regularam. E a lua se fundiu a mim, e eu me fundi a ela. Uma só somos. E me despedi, reverenciei e agradeci àquelas musas, mães e irmãs umas das outras. Assim é feita a mulher: de graça e de garra, de brilho e de fúria. Agora vou despertar desse sonho tão acordado. Já posso dançar a vida, louca dança da vida!