"O Estampido da Onomatopeia da Música do 'Poeta do Diabo' "
Um dos inúmeros motivos para eu não gostar da palavra sonho é que sonhar é olhar para fora, enquanto ser é olhar para dentro e "persistir"... Eu sou e é isso. O que resta é circunstancial e sujeito a contingência. Quem disse que a vida nos deve algo? Não, ela nos retira da mão, sem nenhuma piedade, o que nos seria certo. Nos faz rastejar ante a lama da sua estupidez e cuspir na própria face, mirando o altivo céu sublime que outrora foi a sua casa. Nos olhos de Cristo a música dançou com a vida e o louco Zaratustra sorriu... no doce, profundo e travoso barber adágio, em uma aparente contradição, fez-se a vida. Nas antíteses dos clássicos, repousa sobre os meus ombros a certeza de que a consciência é um fardo, quiçá um pecado, mas digo eu, és, ó tão dúbia antítese que repousou sobre os grandes, delírio... sim, o delírio do observador em terceira pessoa. O delírio do coadjuvante de grandes romances, como crime e castigo e memórias do subsolo. O delírio como a única coisa certa que podem, ou melhor, julgam existir. O delírio do ter e ser, onde reside a mais pura contradição, é projetado, como um vômito dos incultos, a nós, eis o asno ascaroso do sistema. Sobre os nossos ombros deixaram o peso da consciência. O peso de ser. O peso de saber. Não, ter consciência não é uma consequência de estar mal disposto.
Na serenade de Tchaikovsky, eu élégie a écocla do meu nome. E sobre o cume do desespero, alfinetei as minhas mãos que escrevem esses versos que vós, doutos, se deleitam. E a desperdiçar o tempo que poderia estar mais ainda dedicando as obras e a vocação das ciências, com supérfluos devaneios libidinosos de um homem em uma persona que o reconforta trazendo alívio da culpa de não poder suportar o mundo, criei um não eu para apenas não matá-lo.
Como leitor de Freud, devo dizer que o objeto do meu gozo, e ainda mais diria, mais de gozar, subvertendo a lógica fálica na estruturação do desejo na mulher, é uma devastação; que tragédia do dito há algum em algum lugar, assim como eu, ante o alto da montanha em uma busca frenética de elevar-me ainda mais. Ante o conjunto unário do meu desejo (as vozes do primeiro ato dizem: retrato psicanalítico).
A coisa em si é experienciada pela via estética. Mas tomaram do juízo apodídico a única coisa que o define como tal: contextos e jogos de linguagem, que traz a semântica válida única e somente para aquele caso. Kant e nem Wittgenstein puderam intuir o que Frege pode. Digo, ninguém e nada pertence a si mesmo, pois vos digo, pertencer a si mesmo leva à conclusão de não pertencer a si mesmo, trazendo o nonsense e o ilogicismo absurdo das extensões. Contudo, ser grande é não ser. Para isso ser inteiro é fazer de si mesmo a extensão das extensões. Ninguém e nenhum objeto é, os fenômenos/coisas acontecem, são fatos. O juízo analítico e de valor visa trazer uma métrica, onde existem apenas métricas. Tornei-me a mim mesmo, quando pude esquecer-me de um eu. E para isso me matei (gritam em uníssono o coro no segundo ato: Bang!).