S em Sol Maior
Essa sou eu, na minha melhor versão. Uma piada, um clichê. Uma verdade. Sou eu na minha sábia arte prestidigitadora, parecendo a mesma, recheada de tantas outras versões tecidas, remendadas, cicatrizadas, escaldadas no fogo intenso da vida. Pele a pele. Unha a unha. Sou eu, essencialmente a mesma, distintamente outra. Tantas voltas dei para sentir esse prazer de voltar a mim. Nem pense que é retrocesso, ou estagnação. É de fato um salto para o futuro. Depois de atravessar a floresta densa, sem deixar vestígios, encontrei a clareira. A minha essência. O chamado da alma. Sou eu. Escritora de tecer palavras. Do santo ofício de caçar versos pela casa, dar voz aos meus fantasmas. Sou mulher de profundezas. Não uso palavras fáceis, nem rimas certeiras. Vocabulário intuitivo, nascente de mim. Do que cabe em mim, do que posso transbordar. Não há porque me comparar. Não sou Adélia, nem Clarice. Longe disso! Sou Simone. Um esse, dois efes. Uma identidade em si, ladeada por dois asteriscos. Tocada pela luz do sol poente, na melodia de tons lilases do arco-íris brilhante de quem atravessou suas piores tempestades. Agora estou aqui, contando ao universo que estou disponível. Em uma espera atenta, ativa. Quando estiver pronta, sei que a vida me fará o convite. E então a escolha será toda minha. Por mim. Para mim.
*Si*