Recado a um jovem amigo

Queres ter uma vida leve e tranquila? Então ria, ria até os músculos da tua face doerem de tanto se contorcer, até sua barriga parecer que está sendo penetrada por uma faca muito bem amolada; mas, cuidado com os fantasmas de almas negras que verão em teu sorriso alegre a marca do desprezo. Rabugentos e invejosos poderão tratá-lo como louco, hipócrita ou um desertor do exército dos mal amados. Porém, se tiveres que chorar, chore, mesmo arriscando-se a parecer sentimental demais, verdadeiro demais consigo mesmo. O riso e o choro são condições necessárias do equilíbrio da alma humana. Levantemos as cortinas e comecemos o grande espetáculo tragicômico da existência; faça de sua vida o mais belo palco de tua melhor performance, e assim como o teatro itinerante tão popular da idade média, percorra o mundo dançando e cantando o bem e o mal que nos atingem, tanto como em condição do nosso gênero humano como em condição da nossa individualidade existencial. Dessa maneira, as suas chances de ser enganado são diminuídas, afinal de contas, somos passados para trás quando dependemos desses espíritos de aparência ressentida e infeliz no qual depositamos algo de nossa essência. Seja o mais espontâneo possível no que se refere a identidade do seu próprio ser, assim não acontecerá de enganar-se a si mesmo. E o mais importante, arrisque tudo se puder, a alma grandiosa necessita correr riscos. Não tenha receio de falhar e sofrer uma decepção, o erro é o aprendizado que te levará mais forte quando chegares no final do teu caminho. Vivendo desse modo, encontrarás a liberdade que tanto almejas, aquela liberdade que não cabe em jaulas que talvez possas estar neste exato momento e que poderá estar deixando-o em um estado de solidão indesejável. Lembre-se, a liberdade pode acarretar solidão, contudo, é uma solidão que corre como o vento vindo do alto da montanha do saber. E quando te sentires cansado, quando o peso do mundo repousar sobre teus ombros, aprenda a resignar-te sem desistir. Aceitar o que não podes mudar é diferente de abandonar os sonhos que ainda te movem. Há sabedoria em saber quando lutar e quando ceder, como as marés que seguem o ciclo do mar. Se permitires que tua alma flua com essas correntes, encontrarás força onde pensavas haver fraqueza. A leveza da vida não está em fugir da dor, mas em compreender que ela, como a alegria, também faz parte da grande dança da existência.