A rodoviária
A rodoviária desperta antes do sol, num murmúrio que cresce lentamente. Os velhos assentos de plástico rangem sob o peso de corpos cansados com olhos que piscam de cansaço pelas madrugadas mal dormidas. Há o cheiro inconfundível de café fresco misturado com óleo, impregnado em cada canto. Cada fissura no chão gasto parece estar lá desde sempre.
As pessoas se movem como rios. Alguns serenos, outros em correnteza: se esbarrando, desviando, arrastando malas ou simplesmente carregando o peso invisível de destinos que desconhecemos. Há os que chegam, com olhos cheios de expectativas e passos rápidos. Há os que partem, com rostos marcados pela despedida ou promessas que talvez nunca se cumpram. Tranquilamente, um senhor cochila num canto, à espera do ônibus que já partiu sem ele. Talvez ele tenha se perdido no tempo, ou talvez nunca tenha tido a real intenção de partir.
O alto-falante anuncia chegadas e partidas, e muitas vezes suas palavras se perdem no eco da imensidão do salão. Crianças correm entre as pernas dos apressados, brincando e rindo sem entender as urgências dos adultos. Os vendedores oferecem seus produtos como quem oferece pedaços de um mundo à parte, distante.
Em cada rosto, uma história: a jovem que carrega uma mochila cheia de sonhos, o homem que olha o relógio com impaciência, a mulher que suspira - sabendo que o ônibus vai chegar, mas o que ela realmente espera talvez não venha. Há também aqueles que se sentam nos bancos desgastados, como se a vida inteira tivesse sido uma espera sem fim, olhares perdidos no horizonte, onde a estrada nunca parece alcançar o destino.
O vai e vem é incessante, um ciclo eterno sem começo nem fim. E, no entanto, no meio da confusão, há momentos de pausa, silêncios entre as vozes, como se o tempo, por um segundo, respirasse junto com aqueles que ainda hesitam antes de (des)embarcar. Os ônibus, esses grandes ventres metálicos, levam e trazem histórias - mas nem sempre as conclui!
No fim, a rodoviária não é apenas um lugar de trânsito. Ela é a própria vida: uma sucessão de encontros e desencontros, despedidas, chegadas e partidas. Uns vão embora rápido demais, outros ficam presos por tempo indeterminado, à espera de algo que nunca vem. Somos todos passageiros, alguns com destinos claros, outros apenas vagando, esperando o próximo anúncio, a próxima chance, ou o próximo ônibus, que pode ou não nos levar onde queremos chegar.
A rodoviária é uma metáfora: estamos todos de passagem, alguns perdem a viagem, outros nunca mais partem. E o tempo, implacável, continua a anunciar o próximo destino, enquanto a vida se move ao nosso redor, sem nunca parar.