SOB UM BOMBARDEIO DE PAZ

A Primavera acabara de chegar.

Ali, o cenário do lago se iluminava dum sol ocioso, algo sonolento, a tangenciar as águas bem sofridas, bem como a insinuar sua luz dentre as folhas farfalhantes da farta flora despertada ao derredor.

Pude perceber que alguns Sabiás soavam tímidos, como se , algo preguiçosos, respondessem em antítese musical ao chamado dos Bem- Te -Vis , sempre em chilros indiscretos.

De repente, o silêncio se quebrou por uma confusão estridente que soava pelos ares.

Em meio à intimidade dum quieto arbusto de Primavera, dum forte carmim, passarinhos se debatiam , espargindo sépalas viçosas para todos os lados.

Um tapete vermelho se formou na grama abaixo da cena.

Uma bagunça de encantar o entendimento...

Revezavam-se em grupos organizados, em voos coletivos e rasantes, como se disputassem a beleza e o perfume territoriais.

Tratava-se dum bando de Corruíras em revoada, muito espevitadas, que mais pareciam comemorar, com singular alegria, a tão esperada estação das flores.

Tinham goelas tão fônicas que pareciam trinar para todo o sempre.

Vez o outra, se trombavam no ar lá de cima, ora seguiam soltas, ora grudadas, até que a brincadeira terminasse num pouso de paz, já na quietude dos gorjeios voadores, sobre os galhos delicados do arbusto primaveril.

Quis registrar o malabarismo artístico em imagem, que mais me parecia uma evidente coreografia de "boas vindas" à Primavera que ali florescera.

Em segundos, como se adivinhassem a intenção dos meus movimentos, alçaram em revoada sobre o lago dormente, a lançar sobre mim um bombardeio de miudíssimas plumas, que levemente pairavam no ar.

Pude tocá-las com as mãos encantadas, com a sensação de estar num céu...

Imediatamente remeti meu pensamento ao mísseis que cortam os ares do nosso Planeta.

Oxalá!- a Humanidade toda desfrutasse daquele meu cenário, a dum aconchegante bombardeio "de plumas e penas", advindo da alegria dos rouxinóis que saúdam a inebriante Primavera.

Que nos chovesse uma chuva "sem duras penas", apenas de leves plumas das felizes revoadas das vidas.

E assim, pudéssemos, todos juntos, revoar ao Horizonte tangível, o de uma legítima Primavera de Paz.