Com o dedo no gatilho

Ah, a vida, este grande palco de absurdos, uma ópera desafinada onde cada um empunha sua própria arma...

Metaforicamente ou não, todos estamos com o dedo no gatilho, esperando aquele momento sublime para efetuar o disparo. Mas... atirar em quê? Na solidão? No vazio de mais um dia que não surpreendeu? Ou quem sabe em um destino que teima em ignorar nossos desejos mais profundos? O curioso é que, entre tantos possíveis alvos, parece que ninguém realmente sabe onde deve mirar.

Com o dedo trêmulo no gatilho, contemplo um horizonte de possibilidades. Mas que horizonte seria este, afinal? Um mar de incertezas, um deserto de sentidos, uma fila de dias monótonos como soldados alinhados à espera da próxima ordem: "Preparar, apontar, FOGO!", sussurra a voz no fundo da mente - aquela mesma que adora dramatizar o cotidiano.

Só que o dedo hesita. Que tal parar e pensar? Só por um segundo, claro, porque quem pensa demais não atira, e quem não atira… bem, só observa a vida passar. É o que dizem, não é? Mas o que diz o dedo que não cedeu ao impulso? Talvez ele saiba que o momento de atirar nunca chega. Talvez atirar seja o grande erro.

Olho ao redor, todos armados. Uns dispararam já há muito tempo e agora carregam os resultados: buracos em tudo, menos naquilo que realmente lhes importava. Outros, como eu, ainda estão ali, com o dedo no gatilho, pensando que o próximo segundo será "O" segundo. O problema é que, no fundo, sabemos que não, nem nunca será.

Porque a verdade, simples e dolorosa, é que nem sempre o melhor é atirar. O dedo no gatilho trata-se muito mais sobre controle do que impulso. Atirar é sucumbir, é cair no clichê da ação que não muda nada, apenas perpetua o ciclo. A verdadeira coragem reside em segurar a arma e, com um sorriso sarcástico, guardá-la imaculada de volta no coldre.

Afinal, quem precisa de tiros quando o mundo já está parecendo uma peneira?

Betaldi
Enviado por Betaldi em 23/09/2024
Código do texto: T8157770
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