QUEBRA QUANDO SE FALA
QUEBRA QUANDO SE FALA
Um Texto Teatral Coletivo
Direção de Bento Júnior
Personagens
Alguém na Multidão (Pode ser feito por um Ator ou por uma Atriz)
Apresentadora (Participante do Circo)
Beata Severina (Amante do Padre Santo)
Dr. Cornélio do Ó (Casado com a Prefeita)
Inácio (Filho de Inácia, mas que fora adotado pelas viúvas)
Irmã Gertrudes (Seu nome verdadeiro é Carlitos)
Irmã Geruza (Diretora da Igreja)
Jornaleiro (Divulgador de notícias pela cidade)
Padre Santo (Amante da Beata Severina e da Irmã Geruza)
Palhaço Sassarico (Pai de Inácio, Amante da Prefeita)
Policial (Procura o bandido Trovão que é o Carlitos)
Prefeita Dra. Bernadete do Ó (Mulher de Dr. Cornélio, Amante do Palhaço Sassarico)
Viúva Inácia (Mãe de Inácio, Amante do Palhaço Sassarico)
Viúva Inalda (Seu marido morreu envenenado)
Viúva Inalva (Suspeita de ter matado o marido)
João Pessoa-PB, ano 2024.
01. PRIMEIRA CENA – O CIRCO SE APRESENTANDO
EM TOM DE MÚSICA CIRCENSE, ENTRA EM CENA A APRESENTADORA E O MÁGICO, DANDO O TOM DO ESPETÁCULO.
APRESENTADORA - Meus senhores e minhas senhoras, é com muito prazer que vamos apresentar o nosso drama repleto de temas que envolvem: Vida dupla, fofoca, disse me disse, falcatrua, inveja, adoção, traição amorosa e outros mais… Com vocês o espetáculo teatral…
TODOS - Quebra Quando se Fala! (NESTE MOMENTO O MÁGICO INTERPRETA COM SUA LINGUAGEM. SAEM DE CENA).
02. SEGUNDA CENA – AS VIÚVAS E A IGREJA
MÚSICA. TRÊS VIÚVAS ENTRAM PELA PLATEIA, EM SILÊNCIO. MÚSICA. SOBEM NO PALCO. ENCONTRAM UMA CESTA EM FRENTE DA IGREJA COM UMA CRIANÇA DENTRO.
INÁCIA - Irmãs, vocês estão vendo o que estou vendo?
INALDA - O que é isto?
INALVA - Vamos ver o que se procede. (SOBEM NO PALCO. SONOPLASTIA DE CHORO DE CRIANÇA).
INÁCIA - Oh, meu Deus, que coisa mais linda.
INALDA - É um menino. Vamos levá-lo.
INALVA - Com certeza. Ainda bem que temos condições.
INÁCIA - Acredito que nós três temos condições. Ele será encaminhado para nossa família que tem posses e pode muito bem criá-lo.
INALVA - Acredito que solucionamos o problema.
INÁCIA - Vamos embora, espero que ninguém tenha nos visto aqui.
INALDA - Para todo efeito nós somos três viúvas recatadas, somos a moral e os bons costumes da família e da sociedade, nada de exposição exagerada das nossas pessoas. Espero contar com vocês duas.
INÁCIA - Agora precisamos chegar em casa.
VIÚVAS - Vamos. (SAEM DE CENA).
03. TERCEIRA CENA – OS PERSONAGENS E SEUS PARES
ENTRA EM CENA O POLICIAL INVESTIGANDO O LOCAL. PASSA DUAS VEZES NO PALCO E SAI DE CENA. ENTRA EM CENA O PADRE CORRENDO ATRÁS DA BEATA SEVERINA, SAEM DE CENA. ENTRA EM CENA O PALHAÇO E ATRÁS A PREFEITA E EM SEGUIDA O SEU MARIDO. SAEM DE CENA. AS TRÊS VIÚVAS ENTRAM EM CENA.
04. QUARTA CENA – A CASA DAS VIÚVAS EM TACHO QUENTE
INALVA - Ainda bem que chegamos em casa e ninguém nos viu.
INÁCIA - E olhe onde essa cesta veio parar. Tinha que ser em frente de uma igreja.
INALDA - Sempre em frente de uma paróquia. Deve ter sido alguma vadia que teve e não teve condições. E é muita coincidência, na mesma hora que resolvemos fazer um passeio.
INALVA - Quando nós formos batizar, o que é que o padre vai pensar?
INALDA - A gente vai ter que dizer a verdade. Dizer que a gente está adotando a criança.
INÁCIA - Verdade. Eu vou criar como se fosse meu filho.
INALVA - Esperamos.
INALDA - Eu acho até que esse menino deveria se chamar Inácio, em homenagem a você, Inácia.
INÁCIA - Isso, eu nem tinha pensado nisso. Vai se chamar Inácio. Belo nome. Afinal de contas tudo está na letra I. Inácia, Inalda, Inalva e agora Inácio. Nosso pai se chamava Ivaldo e nossa mãe, Ivaldete. Estou gostando.
INALDA - Ver se você baixa o fogo, fica mais em casa e vai cuidar do Inácio.
INÁCIA - Minha irmã, já sei a raiva que você tem de mim. Eu te garanto que eu não tive culpa nenhuma.
INALDA - Olhe, só de ouvir, Inácia, você falando disso, me dá vontade de dá uma surra em você.
INÁCIA - Deus é testemunha que eu não tive culpa de nada. Você me viu daquela vez e nem sequer ficou do lado da sua irmã. Me discriminou e defendeu aquele canalha.
INALDA - Respeite quem não pode se defender. (METE A MÃO NO ROSTO DE INÁCIA. AS LUZES VÃO CAINDO E AS TRÊS VIÚVAS VÃO SAINDO DE CENA. ENTRA EM CENA A PREFEITA COM SEUS CORRELIGIONÁRIOS. ESTÃO NUM COMÍCIO).
05. QUINTA CENA – O COMÍCIO NA CIDADE DE VILA ROXA
PREFEITA - Meu povo, meu amado povo, peço uma salva de palmas para este povo lindo e amado da minha idolatrada cidade. Você que faz parte de nossa cidade e tem familiares e amigos em outras cidades vizinhas à nossa, peço encarecidamente que dê um voto de confiança à esta singela e humildade prefeita.
MULTIDÃO - (NUM SÓ CORO) Prefeitura não é lugar de criar pó, vote na doutora Bernadete do Ó. (APLAUSOS E ALGAZARRAS).
PREFEITA - É a voz do povo, minha amada gente de Vila Roxa. Eu entrei para a política porque Deus quis e agora não saio mais porque o povo não quer.
MULTIDÃO - É a voz do povo, Doutora Bernadete de novo. (ALGAZARRAS).
PREFEITA - A oposição pode até tentar me calar, mas não vai conseguir, porque sou uma mulher íntegra, trabalhadora, temente a Deus e devota de Jesus Cristo. E vocês sabem disso. Vocês viram através do meu trabalho nesses últimos anos. Por isso, no dia 15 de novembro não esqueça. É Bernadete do Ó, aquela que gosta de desatar o nó. (APLAUSOS E ALGAZARRAS) Muito obrigada meu povo… Com Deus no coração vamos ganhar esta eleição. (ALGAZARRAS).
MULTIDÃO - (NUM SÓ CORO) Prefeitura não é lugar de criar pó, vote na doutora Bernadete do Ó.
ALGUÉM DA MULTIDÃO - (INSTIGANDO A PREFEITA) Mas, prefeita, o postinho de saúde de Vila Roxa como é que vai ficar? E a reforma?
PREFEITA - (INTERROMPENDO) Neste momento eu não tenho tempo para perguntas. Tenho um compromisso agora na cidade de Tacho Quente, porque é importante que um líder político mantenha boa relação com os municípios vizinhos, para que sejamos cada vez mais beneficiados e vistos pela população. É ou não é, meu povo?
MULTIDÃO - (EUFÓRICA, GRITANDO) Viva a nossa prefeita. Viva!
ALGUÉM NA MULTIDÃO - Prefeita, porque a senhora não trás o circo pra qui de novo? A gente tá sem diversão. Só tem uma televisão na praça caindo aos pedaços.
DOUTOR CORNÉLIO DO Ó - Meu rapaz, você está perturbando o ambiente. Se comporte como gente.
ALGUÉM NA MULTIDÃO - Por que foi que o circo saiu daqui de Vila Roxa?
DOUTOR CORNÉLIO DO Ó - Não lhe interessa. Vá perguntar pro Palhaço Sassarico. Saiu daqui porque queria soltar umas gracinhas pra Bernadete, aí a prefeita mandou ele pegar descendo. Está satisfeito?
ALGUÉM NA MULTIDÃO - Se o senhor não sabe, a gente daqui, tudinho sabe.
PREFEITA - Cornélio, vamos embora meu amor. Estou cansada. Ainda tenho que viajar. (Saem de cena. Entra em cena o Padre Santo que acabara de celebrar a missa).
PADRE SANTO - Mas que barulho é esse? O povo não respeita nem o domingo, dia do Senhor. Espero que este tempo de politicagem passe logo. (ENTRA EM CENA A BEATA SEVERINA) Severina, já falei pra tua pessoa que não fizesse mais isso. Esse povo é só dar uma brechinha que a fofoca corre solta.
BEATA SEVERINA - Padre Santo, o senhor sabe que eu não me aguento. Quando eu vejo o senhor celebrando essa missa, me dá uma vontade de lhe agarrar na frente daquela gente. Eu sei que eu preciso me controlar, mas é difícil.
PADRE SANTO - Misericórdia, Senhor! Na Casa de Deus?
BEATA SEVERINA - Mas, deixe de coisa, meu padre. Deus é testemunha, só ele, desse nosso amor eterno e divino.
PADRE SANTO - O que, Severina?
BEATA SEVERINA - O nosso amor de irmão.
PADRE SANTO - Isso mesmo, irmã. Somos todos irmãos aos olhos de Deus. Não importa se eu sou padre ou deixo de ser. (PUXA A BEATA SEVERINA) Olhe, agora não dá, porque estou indo celebrar uma missa na capela do Convento de Nossa Senhora das Dores, na cidade de Tacho Quente. Mas, amanhã de manhã, estarei de volta, na Secretaria Paroquial. Você já sabe muito bem o que fazer, até logo. (SEVERINA TENTA SE AGARRAR COM O PADRE).
BEATA SEVERINA - Padre Santo, por que o senhor não me leva pra Tacho Quente, do jeito que eu estou quente, vai ser uma quentura da gota com este sol quente da bexiga.
PADRE SANTO - Pare, Severina. Deixe de coisa. Limpe sua boca, só fala putaria.
BEATA - Sim, meu senhor!
PADRE SANTO - (EM ALTO TOM) Então fica certo assim, Irmã Severina. Amanhã. Vamos procurar o batistério do seu sobrinho.
BEATA SEVERINA - Certo, padre. Espero o senhor pra gente procurar o batistério do meu sobrinho. (SAEM DE CENA. ENTRA EM CENA O JORNALEIRO).
JORNALEIRO - Extra, extra, extra… Atenção para esta notícia. Procura-se o bandido mais perigoso do Estado, que acabou de fugir do presídio. O Bandido Trovão. Fugiu do presídio sem deixar rastro e nem vestígio. É um bandido bastante perigoso, sanguinário e muito violento. A polícia desconfia que ele esteja escondido aqui nesta cidade de Tacho Quente. Favor ter mais cuidado, porque a qualquer momento a prisão poderá ser efetuada e se alguém souber do seu paradeiro, entrar em contato com a delegacia. (SAI DE CENA. ENTRAM EM CENA AS TRÊS VIÚVAS BASTANTE DESESPERADAS)
INÁCIA - Vocês ouviram o que foi que o jornaleiro falou?
INALVA - Meus Deus, que horas são essas! Meu Deus, nesse fim de mundo também não estamos livres da violência.
INALDA - Jesus amado, será que é o mesmo que matou o meu amado esposo? Não quero nem pensar.
INÁCIA E INALVA - O que estais a pensar, minha irmã?
INALVA - Quem matou teu marido, já morreu, não ficou nem as cinzas.
INALDA - Isso é o que falaram pra gente. Até hoje não sabemos da verdade. O tempo é a melhor resposta. (CHORO DE CRIANÇA).
AS TRÊS VIÚVAS - É, Inácio. (SAEM DE CENA. ENTRAM EM CENA A PREFEITA DOUTORA BERNADETE DO Ó E SEU ESPOSO, O DOUTOR CORNÉLIO DO Ó).
PREFEITA - Meu amor, como fui a melhor prefeita eleita em todo Estado, ganhei um prêmio e vou passar uns quinze dias distante daqui.
DOUTOR CORNÉLIO DO Ó - Bernadete, você tem a ideia de quando foi a última vez que viajamos juntos?
PREFEITA - Calma, meu amor. Eu não sou uma qualquer, eu sou prefeita de uma cidade, reeleita com todos os méritos. Sou política e como política eu preciso está por dentro do que vem ocorrendo na capital.
DOUTOR CORNÉLIO DO Ó - Pois é, Bernadete. Eu sou um homem de casa pro trabalho, do trabalho pra casa, só penso na família… E você nessa danada de política que não tem fim.
PREFEITA - Cornélio, você já sabia quem era Bernadete. A vereadora mais votada da cidade, aí você botou o olho nela, se apaixonou e nos casamos. E agora me diz tudo isso?
DOUTOR CORNÉLIO DO Ó - Outras mulheres por aí, teriam a maior vontade de viajar com seus maridos, apresentar aos correligionários como você fala.
PREFEITA - (INTERROMPENDO) Cornélio, no próximo ano eu te garanto que a gente vai fazer aquela viagem. Vamos visitar a nossa filha que está se formando médica, seguindo a carreira do pai. Será que você não tem orgulho disso?
DOUTOR CORNÉLIO DO Ó - Sim, eu sei. O que tem a ver uma coisa com outra coisa. Não enrole o seu marido. Você está me devendo. E até hoje eu estou engasgado com aquela história do palhaço daquele circo que provocou a maior fofoca nessa cidade. E sabe quem tava no meio da história, a minha mulher. Fiz das tripas, coração. No consultório só era o que me perguntavam. E você até hoje não me falou daquela historia daquele Circo sem Pano.
PREFEITA - Meu amor, aquele Palhaço Sassarico era o cão em figura de gente, fez uma gracinha na sua apresentação e veio em direção a mim dar uma flor de presente. Só isso. Chamei a atenção dele e disse pra ele que eu era a prefeita e exigia respeito.
DOUTOR CORNÉLIO DO Ó - Ainda bem que você se defendeu bem. Mas, pense um pouco em nós dois. Eu todo dia é a mesma história naquele consultório, só ouço gente dizer que está doente. Vai terminando eu também ficar. Eita povo pra adoecer. (SAEM DE CENA. ENTRAM EM CENA O PADRE SANTO E AS IRMÃS GERTRUDES E GERUZA).
06. SEXTA CENA – A CIUMEIRA DAS IRMÃS DA IGREJA
PADRE SANTO - Irmã Geruza a situação na paróquia continua de mal a pior.
IRMÃ GERUZA - De mal a pior, como Padre Santo? Aparentemente eu não vejo nenhum problema.
IRMÃ GERTRUDES - (ENTRA EM CENA) Bênção Padre Santo…
PADRE SANTO - Deus abençoe, Irmã Gertrudes.
IRMÃ GERUZA - Padre Santo eu preciso ir. Tem muitas coisas da igreja pra ser resolvida. (SAI DE CENA, ESTÁ DESCONFIADA).
PADRE SANTO - Irmã Gertrudes, a senhora bem que poderia me acompanhar até a cidade de Tacho Quente. Estou precisando de uma ajudante.
IRMÃ GERTRUDES - Padre Santo, o senhor sabe que desde que eu cheguei nessa igreja, eu fui dizendo que não gostaria de arredar o pé daqui. Ficaria aqui até o resto da minha vida.
PADRE SANTO - Você é uma irmã muito difícil de lidar. Se eu chamasse a Irmã Geruza, ela vinha que vinha correndo. Você não, é cheia de dengo, tudo que eu falo pra você, não tenho a resposta. O que está havendo, me diga?
IRMÃ GERTRUDES - Padre Santo, o senhor sabe que eu não gosto dos seus convites. Eu sou devota de Jesus Cristo e não posso me afastar deste propósito. Eu sei muito bem o que o senhor pretende.
PADRE SANTO - Compreendi, Irmã Gertrudes, compreendi. Agora a senhora poderia me responder aquela primeira pergunta que lhe fiz, poderia?
IRMÃ GERTRUDES - Padre Santo, mas que proposta imoral o senhor me fez. Eu não gosto destas coisas. Aquilo foi uma loucura. Ainda bem que eu não disse prás outras irmãs. Ainda bem.
PADRE SANTO - Certo, Irmã Gertrudes, certo.
IRMÃ GERTRUDES - Se o senhor me der licença eu já vou me retirar pra ir ajustar algumas coisas no meu quarto. Com licença. (SAI DE CENA).
BEATA SEVERINA - (ENTRA EM CENA) Eu só queria saber mesmo o que é que o senhor se bota todo pra cima dessa irmã? Eu não gosto da cara dela, é uma pessoa muito estranha. Eu nem sei porque foi que ela ficou aqui na igreja, chegou nem sei de onde e teve logo guarida. Eu sou capaz de fazer uma loucura.
PADRE SANTO - Calma, Severina. Calma. Isso são provas de ciúme que você está me dando.
BEATA SEVERINA - Ciúme? Eu, hein… Ciúme da Irmã Gertrudes, meu Deus, nunca.
PADRE SANTO - Deixe de ciúme besta e se dirija imediatamente para a Secretaria Paroquial. Precisamos levar esse diálogo adiante. Me siga. Vamos resolver as questões do batistério do seu sobrinho. (SAEM DE CENA. ENTRAM EM CENA AS TRÊS VIÚVAS).
07. SÉTIMA CENA – RECLAMAÇÕES DAS VIÚVAS
INALVA - Inácia, você precisa ter mais pudor.
INÁCIA - Pudor? Como? Eu sou a única entre vocês que tenho por mim o maior respeito.
INALDA - O Padre Santo de santo ele não tem é nada. Na verdade é um sujeito desqualificado.
INALVA - Por que desqualificado?
INALDA - Vocês sabem muito bem do que falo. Se não fosse eu com vocês duas, só Deus sabe. Vocês estavam perdidas. Perdidas e desamparadas.
INÁCIA - O Padre Santo quando vem rezar missa na nossa cidade, toda vez vocês duas ficam com raiva, sabem por quê? Porque eu sou jovem, bonita e ele bota aqueles olhos de pidão na minha pessoa e vocês duas ficam a ver navio, é isso.
INALDA - Me respeite. Isso são coisas pra você dizer pra nós duas?
INÁCIA - Digo, digo e pronto. (RECEBE UM TAPA NO ROSTO DE INALDA).
INALVA - Inalda, pelo amor de Deus, pare de querer ser a mãe de nós duas. Você não é mamãe. Mamãe já morreu e você não tem esse direito.
INALDA - Não vou parar. Não vou parar. Você quer que eu diga pra todo mundo dessa cidade que você envenenou o seu marido pra ficar com a posse daquela fazenda, quer?
INALVA - Não fui eu que matei. Não fui eu. Pare de querer me incriminar. Fale baixo, já dizia os mais antigos: Mato tem olhos, paredes tem ouvidos. (MUDANDO DE TOM) Pelo amor de Deus.
INALDA - A sua sorte é que ninguém prestou queixa. A família do meu cunhado era tudo de fora. Ficou sabendo que foi um derrame e que ele não resistiu, não foi isso?
INALVA - E seu marido? Também foi encontrado morto. Você que matou ele, foi?
INÁCIA - Pelo amor de Deus, minhas irmãs. O que está acontecendo? Éramos tão unidas. Viemos pra esta cidade pra termos paz e harmonia e fico triste.
INALVA - Ela está me acusando de ter matado o meu marido que eu amava e que estava prestes a me dá um filho. (FICA CHORANDO).
INÁCIA - Está vendo, minha irmã? Olhe o que você fez com Inalva.
INALDA - Cale sua boca, eu não aguento mais vocês duas. (SAEM DE CENA. ENTRA EM CENA O PALHAÇO SASSARICO).
08. OITAVA CENA – O CIRCO E OS SEGREDOS EM TACHO QUENTE
PALHAÇO SASSARICO - Não percam, logo mais às 20h, o Circo Sem Pano vai apresentar o seu mais novo drama. Uma espetacular história romântica que vai marcar os corações de Tacho Quente. Solicitamos humildemente que compareçam, venham prestigiar o que é nosso. Um espetáculo feito por quem entende de arte e cultura.
APRESENTADORA - Com vocês o nosso mágico. (ENTRA EM CENA O MÁGICO QUE ATRAVÉS DE MÍMICA FAZ O SEU NÚMERO SEMPRE ACOMPANHADO DA APRESENTADORA, INTÉRPRETE DE LIBRAS. SAEM DE CENA. ENTRAM EM CENA AS TRÊS VIÚVAS DESESPERADAS PELO SUMIÇO DE INÁCIO).
INÁCIA - (Gritando) Inácio, meu filho, onde você está? (SILÊNCIO).
INALDA - Inácio, menino. Nós te amamos .
INÁCIA - Meu Deus do céu o que é que eu vou fazer sem Inácio, sem meu filho querido.
INALVA - O que é que faz um menino daquele, doze anos, perdido, sem pai e sem mãe?
INALDA - Ele não gostava dos apelidos que a gente chamava. Ele se sentia angustiado, vocês sabem disso?
INÁCIA - É verdade. Vocês viviam chamando meu filho de Chico Tripa, de Zé Tomé, de Cabecinha de Mamãe Cheirar, de tudo que não presta.
INALVA - E pare com essa história que você é a mãe dele. Ele é filho de nós três. Nós não tivemos chance de ser mãe e você toda esperta pegou logo o menino pra ele ser seu filho.
INÁCIA - Eu fiz tudo pra ele nunca saber que era adotivo. Falei pra ele que o pai dele morreu num desastre de trem. Ele acreditou.
INALVA - Acreditou que nada, minha irmã. Inácio era muito esperto. Calado, só Deus sabe o que se passava naquela cabeça.
INÁCIA - Meu Deus, diga por favor onde está Inácio, meu filho querido?
INALDA - Chico Tripa!
INALVA - Pare, Inalda. Pare de apelidar Inácio. É por isso que ele fugiu, bem feito.
INÁCIA - Oh, meu Deus, eu não sei o que é que a gente faz aqui parada, se lastimando. Vamos dar parte na polícia. Ele só tinha doze anos. (SAEM DE CENA. ENTRA EM CENA O PALHAÇO SASSARICO E EM SEGUIDA O MENINO INÁCIO).
INÁCIO - Palhaço, palhaço, palhaço. Eu vim assistir o seu drama e gostei muito. Se o senhor quiser eu fico aqui ajudando.
PALHAÇO SASSARICO - Por onde você entrou? E o que é que veio fazer aqui?
INÁCIO - Eu já disse que quero fazer parte do mundo encantado do circo.
PALHAÇO SASSARICO - E quem são seus pais?
INÁCIO - Eu não tenho pai e nem tenho mãe. Eu sou da cidade de Vila Roxa. O senhor conhece?
PALHAÇO SASSARICO - Conheço sim, meu circo já ficou lá um bom bocado e só saiu porque o corno do marido da prefeita botou a gente pra correr.
INÁCIO - Eu posso ficar por aqui?
PALHAÇO SASSARICO - A doze anos atrás, me lembro como se fosse hoje, em Vila Roxa conheci uma menina que se enrabichou pro meu lado. Perdi ela de vista. Depois daquele dia prometi que nunca mais voltava a cidade.
INÁCIO - O senhor não disse que saiu de lá por causa do marido da prefeita?
PALHAÇO SASSARICO - Eita, menino pra perguntar. Essa já é outra história. Aquele médico corno. A vadia da prefeita casa e descasa com ele e o cabra nem sequer se dá de conta.
INÁCIO - Eu perguntei pro senhor se eu posso ficar aqui?
PALHAÇO SASSARICO - Menino, você é doido? Não posso, isso dá uma cadeia da gota. Eu vou procurar pelos seus pais.
INÁCIO - Eu era bem tratado se o senhor quer saber. Só que eu tinha três mães.
PALHAÇO SASSARICO - Como assim?
INÁCIO - Duas delas viviam botando apelido e me chateava. Chegou até na escola se o senhor quer saber.
PALHAÇO SASSARICO - Apelido é coisa séria. Tem gente que se dá bem. Por exemplo o Palhaço. O meu nome não tem nada a ver com Sassarico. Meu nome de batismo é… (É INTERROMPIDO POR UMAS BATIDAS DE PORTA).
INÁCIO - Palhaço, não abra. (ENTRA EM CENA INALDA E INALVA).
INALDA - Disseram que Inácio veio parar aqui no circo. (REVOLTADA) Nessa pouca vergonha.
PALHAÇO SASSARICO - Aqui só entra artista. Por acaso a madame quer ser contratada pra trabalhar no circo?
INALDA - Me respeite que eu sou uma mulher de classe, não sou da sua laia.
INALVA - O senhor está perdendo a compostura. Viemos aqui saber se por acaso um menino de doze anos veio parar aqui no circo, só isso.
PALHAÇO SASSARICO - Quem é a mãe do menino?
INALVA - Ela não veio. Ficou em casa, desesperada. Me faça o favor, se Inácio estiver por aqui o senhor me diga.
PALHAÇO SASSARICO - Vão e digam a mãe do menino que eu só digo onde ele está se a mãe dele aparecer.
INALDA - Pois o senhor vai pagar. Nós já prestamos queixa na polícia e ela já está procurando por toda cidade. É melhor dizer logo.
INALVA - Calma, mulher. Desse jeito você espanta o coitado desse palhaço.
PALHAÇO SASSARICO - Coitado? Vejamos… Se não trouxerem a mãe do menino aqui eu não digo nada. Podem me prender. (SAI DE CENA. DE REPENTE ENTRA EM CENA, INÁCIA. ESTÁ EUFÓRICA).
INÁCIA - O que está acontecendo, Inalda? Acharam Inácio?
INALDA - Acho que seu filho está escondido nessa bagunça de circo.
INALVA - Nós já íamos chamar você, o palhaço disse que só dizia alguma coisa se a mãe do menino viesse. (O PALHAÇO SASSARICO E O MENINO INÁCIO ENTRAM EM CENA).
PALHAÇO SASSARICO - Foram buscar a mãe do menino?
INÁCIA - (CLIMA DE SUSPENSE) Não precisa, aqui está ela. (SONOPLASTIA MUSICAL DE SUSPENSE).
PALHAÇO SASSARICO - Meu Deus, é você, Inácia? Quanto tempo!
INALVA - Não estou entendendo. Você já conhecia esse sujeito?
INALDA - Perdeu a voz, Inácia, diga!
INÁCIA - (NÃO CONSEGUE FALAR) Eu estou passando mal…
PALHAÇO SASSARICO - Eu sei porque ela está passando mal.
INALDA - Eu não estou entendendo nada.
INALVA - Nem eu.
INÁCIA - (RESPIRA FUNDO) Mulher deixa eu falar.
PALHAÇO SASSARICO - (CÍNICO) Estamos esperando.
INÁCIA - Vocês duas não desconfiaram de nada. Ele se chama Nilson Condé. O meu primeiro amor que me iludiu e foi embora com o circo.
PALHAÇO SASSARICO - Eu saí fugido porque o corno do marido da prefeita fez de tudo pra me botar medo. Aí não tive outro jeito, comecei a andar de cidade em cidade. Mas, enfim, tudo passou. Hoje você é mãe, está mudada.
INALDA E INALVA - O que está acontecendo?
INÁCIO - Eu não quero mais voltar pra casa.
INÁCIA - Por que, meu filho?
INÁCIO - A senhora sabe porque.
INÁCIA - Sei, o tratamento das minhas irmãs. Os apelidos e os constrangimentos que você passou, entendo.
INALDA E INALVA - Esse menino não é filho de Inácia!
INÁCIO - Ela não é a minha mãe?
INALDA - Não! Nós encontramos você numa cestinha em frente de uma igreja, batizamos e trouxemos você para morar com a gente. Inácia, resolveu por conta própria dizer que era a sua mãe, até botou Inácio em homenagem a ela própria.
INÁCIO - Mãe, quer dizer que eu sou um adotado? Quem são meus pais?
INÁCIA - Já disse, meu filho. Ele morreu de um acidente de trem.
INÁCIO - Eu até hoje acreditei nessa história, não acredito mais.
INÁCIA - Acredite, Inácio. Achamos você numa cestinha bem arrumadinha e resolvemos levar você para criar e dar educação. Eu como nunca tinha me casado resolvi solicitar das minhas irmãs que deixasse eu assumir a maternidade de ser sua mãe.
INÁCIO - Por que vocês esconderam de mim todos esses anos? Eu não quero mais voltar pra casa. Eu vou seguir o destino do circo.
PALHAÇO SASSARICO - Inácia, quanto tempo. Você não muda, continua a mesma.
INÁCIA - Eu sei, você me abandonou. Se quer saber da verdade, eu tive que passar dois anos fora de Vila Roxa, com desgosto, amargurada, fazendo o curso ginasial.
PALHAÇO SASSARICO - Minha filha, palhaço não se prende a ninguém. Pensei que fosse só uma aventura e pronto.
INALVA E INALDA - Deixe de pouca vergonha. (NESSE MOMENTO ALGUÉM BATE À PORTA. É A PREFEITA QUE VEIO FAZER UMA VISITA AO PALHAÇO).
PREFEITA - Nilson Condé, aqui nesse ambiente, que surpresa.
INÁCIA - Prefeita, o que é que a senhora faz uma hora dessa em outra cidade dentro de um circo?
PREFEITA - Não é da sua conta. Eu estou aqui, sabe por quê? Eu não tenho nada para esconder. Estou aqui porque me apaixonei por este palhaço e vou pra onde ele for.
INALDA E INALVA - Que barraco, prefeita, que barraco! Nem aqui a gente tem sossego.
PREFEITA - Eu sou viajada. Você passou dois anos fora, Inácia. Eu sei porque.
INÁCIA - Meu Deus, Inácio me traga um copo de água pra sua mãe. (DESMAIA).
PREFEITA - Aqueles dois anos que ela teve fora de Vila Roxa foi pra ter um filho. Porque ela saiu de lá, buchuda. As suas irmãs não sabiam de nada. Até meu marido, o Doutor Cornélio foi chamado às pressas pra fazer um aborto e não fez. Ela preferiu ter a criança e até hoje eu não sei o que foi que ela fez.
INÁCIO - Quer dizer que eu tenho outro irmão? (INÁCIA VOLTA DO DESMAIO).
INÁCIA - Não, Inácio. Você não tem irmão. Eu fiquei grávida de você, você de fato é meu filho verdadeiro. (INALDA E INALVA DESMAIAM).
PREFEITA - Quer dizer que este menino é filho de Nilson Condé? (AS DUAS VIÚVAS QUE ESTAVAM DESMAIADAS VOLTAM À CENA).
INALDA E INALVA - De quem?
INÁCIA - Isso, esse menino é seu filho. (APONTANDO PRO PALHAÇO SASSARICO).
INALDA - Não, Inácio é adotado. Encontramos em frente de uma igreja, dentro de uma cestinha colorida e resolvemos levar pra criá-lo.
INÁCIA - Não, minhas irmãs. Eu criei tudo aquilo pra parecer ser verdade e vocês acreditaram. Eu fiz tudo sozinho pra ninguém desconfiar. Inácio é meu filho e o pai dele é Nilson Condé, o Palhaço Sassarico.
PREFEITA - Eu acho que Nilson Condé tem uma penca de filhos espalhada nessas andanças. O que importa é que ele me ama.
PALHAÇO SASSARICO - Não sei mais se gosto de tu. Larga daquele corno e me segue aqui no circo.
PREFEITA - De jeito maneira, nunca. Vou deixar a minha vida boa pra viver de circo?
INÁCIA - Pois, se o Palhaço Sassarico quiser, eu e nosso filho seremos a partir desse momento, artistas de circo.
PALHAÇO SASSARICO - Você está falando a verdade?
INÁCIA - Sim, não tenho nada a perder. Quero ficar do lado do meu filho.
INALDA - Você vai deixar a sua vida de conforto pra viver perambulando pelo mundo?
INALVA - Eu não acredito.
INALDA - Você é mesmo uma vadia. Quantas vezes peguei você no quarto com meu marido e não disse pra ninguém?
INÁCIA - Seu marido era um safado. Depois fiquei sabendo que ele tinha caso com um homem , um tal de Carlitos. A cidade toda sabia, menos você, minha irmã.
INALVA - Você é muito é ingrata, isso sim. Fomos enganadas esse tempo todinho, achado que Inácio era adotado, e no fundo é seu filho verdadeiro com esse sem futuro, esse palhaço sem vergonha.
PREFEITA - Nilson Condé, quer dizer que você está me dispensando? (O PALHAÇO SASSARICO FICA EM SILÊNCIO. ELA SAI DE CENA, TRISTE. O PALHAÇO SASSARICO, O MENINO INÁCIO E INÁCIA SAEM POR OUTRA PORTA).
09. NONA CENA – OS SEGREDOS DA IGREJA DE VILA ROXA
PADRE SANTO - (MÚSICA. ENTRAM EM CENA O PADRE SANTO, AS IRMÃS GERTRUDES E GERUZA) Faz um bom tempo que não vejo a Irmã Severina. Vocês duas sabem de alguma coisa?
IRMÃ GERTRUDES - Falou no cão o diabo aparece.
BEATA SEVERINA - Estava com saudade de mim, Padre Santo? Eu também estava com saudade de todas vocês. Você é muito é sonsa. Esse jeitinho que não engana a ninguém, viu? Eu sei muitas coisas ao seu respeito, se existe o diabo aqui, esse diabo é você.
PADRE SANTO - O que você sabe, Severina, sobre a Irmã Gertrudes que nós aqui não sabemos?
BEATA SEVERINA - Padre Santo, eu sempre desconfiei. Essa peste não tem nada de Irmã Gertrudes. Isto é uma farsa.
IRMÃ GERUZA - Farsa, como assim?
PADRE SANTO - Severina, olhe bem o que você me diz.
BEATA SEVERINA - Pois é, esta mulher não é mulher, é um homem, um homem.
PADRE SANTO - Um homem?
BEATA SEVERINA - Desde que esse bandido chegou aqui que eu fui atrás de informações, fofoca ali, fofoca aqui, mas descobri a verdade. Irmã Gertrudes é um homem, Padre Santo.
IRMÃ GERUZA - Agora descobri, porque ela nunca quis tomar banho com as irmãs, sempre tomava banho sozinha.
BEATA SEVERINA - Vamos tirar a roupa dessa infeliz pro senhor ver com seus próprios olhos.
PADRE SANTO - Não precisa desse absurdo.
IRMÃ GERUZA - Eu sabia que eu não estava errada, eu também desconfiei.
IRMÃ GERTRUDES - Calma, gente. Eu posso explicar. (SONOPLASTIA MUSICAL DE SUSPENSE) De fato eu sou um homem e quis me passar por mulher pra não morrer. Eu cometi um crime e vir me esconder aqui nessa igreja.
PADRE SANTO - Um crime? E veio se esconder logo aqui na minha igreja?
IRMÃ GERTRUDES - Na sua igreja, padre. E se eu não fosse homem o senhor me teria feito o que faz com todas as outras que estão aqui. O senhor usa e abusa das irmãs. Todas elas precisam atender aos seus caprichos. Eu nunca fiz o que o senhor solicitou. Era muitas propostas indelicadas.
PADRE SANTO - Eu dizia aquilo brincando, até porque você não me fazia bem aos meus caprichos. Graça a Deus que me livrei de você. Agora é só entregar você pra polícia. (IRMÃ QUE NO FUNDO É CARLITOS, O BANDIDO TÃO PROCURADO POR NOME DE PAVÃO).
GERUZA - Nem sei como vou dizer pros fiéis dessa igreja essa história toda. Estou envergonhada. (REVOLTADA) Na igreja de Jesus?
IRMÃ GERTRUDES - Tudo bem, vocês vão querer me entregar pra polícia?
TODOS - Mas, é claro.
BEATA SEVERINA - Vamos sim. Eu tenho aqui toda a sua história. Padre Santo, ele se chama Carlitos Bonavides Veloso Vieira… É, esse é o seu nome. Esse é o famoso bandido procurado, o tal de Pavão.
TODOS - Bandido Pavão?
IRMÃ GERUZA - Meu Deus
IRMÃ GERTRUDES - Pois bem, façam isso que eu vou na rádio, boto nota no jornal e todo mundo vai ficar sabendo o que é que tem por dentro dessa igreja.
BEATA SEVERINA - (CÍNICA) Padre Santo, deixa a Irmã Gertrudes, quer dizer, o Carlitos ir embora pra bem longe. Vai sobrar pra todo mundo daqui. (A POLÍCIA CHEGA NO MOMENTO E ENQUADRA O BANDIDO PAVÃO).
POLÍCIA - (ACOMPANHADO DE SUA INTÉRPRETE) Esteja preso. Você está sendo acusado de ter matado o marido da senhora Inalda, conhecida como viúva. Você mantinha um relacionamento com ele e por perversidade deu uma dose exagerada de remédio e ele veio à óbito.
PADRE SANTO - Foi você que matou? Maldita, quer dizer maldito. Vá pagar na cadeia.
BEATA SEVERINA - Esse bandido enganou bem direitinho. (SAEM DE CENA COM CARLITOS PRESO QUE SE PASSAVA POR IRMÃ GERTRUDES).
IRMÃ GERUZA - Eu estou aqui passada. Quer dizer que nós mantínhamos na nossa paróquia um assassino, um bandido, o mais procurado, esse tal de Pavão? Que perigo a gente correu, Padre Santo.
PADRE SANTO - Eu também estou passado. Irmã Geruza, a senhora vai ficar responsável pra entregar a roupa daquelas irmãs que nos procurarem aqui por diante. Essa falha não pode se repetir. Vamos, Severina, me acompanhe até a secretaria. (SAEM DE CENA. ENTRA EM CENA O DOUTOR CORNÉLIO DO Ó, REVOLTADO PORQUE FOI ABANDONADO PELA PREFEITA).
10. DÉCIMA CENA – O COMÍCIO DE CORNÉLIO E O FINAL
DOUTOR CORNÉLIO DO Ó - Eu não acredito que todo esse tempo aquela infeliz me traía e eu inocente, sempre acreditando nela. Foi embora, mandei deixar a casa, está morando no Sul do país com a minha filha. Graça a Deus.
MULTIDÃO - (ALGAZARRAS) Prefeito! O povo está lhe esperando.
DOUTOR CORNÉLIO DO Ó - (DISCURSANDO) Meus correligionários, peço o seu voto pra governar essa cidade que me viu nascer, crescer e certamente me virá morrer. É aqui que quero terminar meus dias. Conto com seu apoio.
ALGUÉM NA MULTIDÃO - Prefeito corno!
DOUTOR CORNÉLIO DO Ó - Espero contar com vocês nesse pleito. Vou dar remédio a toda população, vou reconstruir o posto de saúde, vou colocar calçamento na rua principal da cidade, vou colocar transporte pro aluno ir e vir até a capital concluir seus estudos.
ALGUÉM NA MULTIDÃO - Prefeito corno!
CORNÉLIO DO Ó - Peço uma salva de palmas para todos os presentes que hoje vieram presenciar este comício. (MÚSICA. TODOS OS ATORES VÃO ENTRANDO EM CENA COMO FIZESSE PARTE DAQUELE COMÍCIO. FIM DO ESPETÁCULO).
ELENCO em ordem alfabética e seus personagens
BLUE - Dr. Cornélio do Ó – Casado com a Prefeita
CADÚ - Palhaço Sassarico – Pai de Inácio – Amante da Prefeita
CAMILA CÂNDIDO - Beata Severina – Amante do Padre Santo
CAMILA QUINTINO - Irmã Gertrudes – Carlitos – Pavão
CIDA - Prefeita Doutora Bernadete do Ó – Amante do Palhaço Sassarico
EVERTON - Policial – Sempre na companhia de sua intérprete
HENRIQUE - Padre Santo – Amante da Beata Severina
ÍRIS - Irmã Geruza – Diretora da Igreja
KAUÃ - Menino Inácio – Filho de Inácia e do Palhaço Sassarico
LARISSA - Viúva Inácia – Mãe de Inácio com o Palhaço Sassarico
LUANA - Apresentadora – Intérprete do Policial
VEVÉ - Viúva Inalva – Suspeita de ter envenenado o seu marido
VIDA - Viúva Inalda – Traída pelo marido com o jovem Carlitos
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Texto Teatral Coletivo – QUEBRA QUANDO SE FALA, da TURMA DE FORMAÇÃO DO ATOR, 2024.2 – CEARTE – Orientado e Dirigido pelo Professor Bento Júnior, João Pessoa-PB, 12 de setembro de 2024.