Apenas a Menina
A menina caminhava por entre as ruínas de uma cidade esquecida, onde as vozes e os passos já não existiam. Os prédios erguiam-se como sombras, silenciosos testemunhos de um passado que ela jamais conhecera, mas sentia dentro de si. Era a última. A única. E o silêncio do mundo era seu companheiro mais constante.
O nome dela ninguém mais poderia chamar. Havia se tornado uma melodia perdida, uma palavra que ecoava apenas em sua própria mente. O vento às vezes assobiava pelas janelas quebradas, como se quisesse lhe dizer algo, mas nunca lhe trazia respostas. Havia dias em que sentava à beira de uma fonte seca e olhava o horizonte como quem espera, sem saber o que. Outras vezes, passava horas caminhando entre as árvores desertas, ouvindo o som de seus próprios passos como quem tenta não esquecer que existe.
Ela não sabia há quanto tempo estava sozinha. Talvez desde o princípio, talvez desde o fim. O mundo ao redor parecia congelado, preso num instante que duraria para sempre. Mas ela não tinha medo. A solidão era sua pele, sua casa, e nela havia encontrado uma estranha forma de paz. Cada ruína, cada árvore, cada gota de chuva que às vezes caía era um lembrete de que o mundo já fora habitado, mas também uma confissão de que, agora, ele lhe pertencia por inteiro. Ela era única. E, no silêncio vasto e sem fim, isso era tudo o que restava.