Primavera Fúnebre

Era um homem racional,

pouco ligado à família

e amigos.

Não tinha religião,

considerava tudo mitologia.

Acreditava apenas na ciência

e se orgulhava disso.

Padecendo da saúde,

poucos estiveram ao seu lado,

e o rosto doce da enfermeira

construiu morada terna em

sua memória,

assim como a voz dela,

que simulava a sonoridade

do dialeto dos anjos.

Num dia que marcava o

retorno de Perséfone do submundo,

ele pegou carona nas asas de Ícaro,

e aquele semblante divino guardado

em sua mente, junto com a razão

que o regeu por toda a vida,

derreteram-se com o calor do sol.

Quando o seu corpo beijou

derradeiramente as águas do mar,

ninguém ali mais o procurou.

Renato A
Enviado por Renato A em 20/09/2024
Código do texto: T8156094
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