Primavera Fúnebre
Era um homem racional,
pouco ligado à família
e amigos.
Não tinha religião,
considerava tudo mitologia.
Acreditava apenas na ciência
e se orgulhava disso.
Padecendo da saúde,
poucos estiveram ao seu lado,
e o rosto doce da enfermeira
construiu morada terna em
sua memória,
assim como a voz dela,
que simulava a sonoridade
do dialeto dos anjos.
Num dia que marcava o
retorno de Perséfone do submundo,
ele pegou carona nas asas de Ícaro,
e aquele semblante divino guardado
em sua mente, junto com a razão
que o regeu por toda a vida,
derreteram-se com o calor do sol.
Quando o seu corpo beijou
derradeiramente as águas do mar,
ninguém ali mais o procurou.