DOCE DESPEDIDA

Um dia há de chegar, em que trancarei a minha velha porta, e deixarei dentro da casa os pertences que mais amava. São tantos trecos entulhados dentro do antigo armário, o corroído balde de prata, a caneca de louça azulada, o bule branco esmaltado e uma tigela florada. Nas gavetas, tantos trocinhos, minha agenda rabiscada, a caneta mais bonita e o meu antigo diário. Espalhadas pelas paredes, muitas fotos desbotadas que marcam o tempo de outrora, de uma vida passada. Tantos bregueços ostentados por entre as cores do quarto; a cama com colcha bordada, travesseiros e panos rasgados, a minha querida boneca e o meu cachorrinho engraçado. No canto, o guarda-roupa espelhado, entupido com roupas estampadas. Na prateleira de dentro, o meu batom avermelhado, o pó rosado e na caixinha ao lado o meu querido rosário. O rústico baú envernizado, a cadeira azul estofada e muitos livros bonitos da minha memória, guardados. Juntinho de mim, vou levar a linda rosa-amarela com um laço de fita dourado escrito o nome dele. No caminho, deixarei pétalas de rosas espalhadas, a chuva fria no telhado, um poema recitado da poeta enamorada.