Feiticeira das Palavras

Sou uma alma ancestral, solta por essas florestas… Cabelos desgrenhados, unhas sujas de terra. Há tempos carrego uma culpa por não honrar essa minha alma selvagem, me sentindo um tanto menos bruxa por não usar as ervas que crescem no quintal. Por não cultivar flores. Por não regar as plantas. Estar ausente do contato mais primitivo com a mata. Até que em um insight, desses tão comuns nas manhãs de sábado, compreendi que minha medicina é o meu sorriso, o meu abraço sincero, pleno de amor genuíno. Mas, a bruxaria é outra. Faço feitiços com as palavras. Traço sortilégios. Só não trago o amor de volta, porque quando ele se despede é por ter passado a hora de ir embora. Solto os versos ao vento. Libero sentenças complexas entregues ao abismo do esquecimento. Desfaço poções de ilusão com a verdade cruel da vida real. Não há padrões normativos para ser deusa de um novo sagrado pagão. Não há receita pronta para encher o caldeirão. Um pouco de sol, uma pitada de luar, um verbo, uma dor, uma saudade, um mar além do horizonte, gargalhadas… Quando vem do coração todo feitiço revela a feiticeira. Tão simples, puro, verdadeiro e óbvio. Solte os pulsos, corte as linhas do papel, dê asas ao mundo de dentro que salta, transborda, direto para a imensidão do poema que nasce da certeza que a alma ancestral se nutre da bruxaria primitiva de construir um novo universo todinho de palavras. Isso posto, soletro encantos, abro os braços para o cosmos. Estou pronta para novamente renascer!

*Si*

Simone Ferreira
Enviado por Simone Ferreira em 18/09/2024
Código do texto: T8154285
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