"O que é melhor, uma felicidade barata ou um sofrimento elevado?"
Quando sossego no singelo e sublime silêncio dos nadas do M. de Barros, experimento uma espécie de alívio da consciência que se vê apenas com uma coisa. No conhecimento do dito e do expresso, em algo o ser-algo se transforma em bênção, alívio. Contudo, no bálsamo desta fonte, digo aos senhores, ter consciência demais é uma doença. Ah ignóbil tentativa de não ser a si mesmo. Haverá uma espécie de criatura de alta consciência pôr em ombros seus algo que não pese ou algo que pese sobremaneiramente? Não, pois, vos digo que aquele que blasfemar o magnânimo verso consagrado, haverá de lavar as mãos ao escrever com a pena as duras penas da miserável vida de não ser outro, aquém do ser em tudo, que leva só por não ser ele, o ser como um ou em um algo.
Não saberia te dizer o que me levou até aqui. Mas com certeza é algo multifatorial, repleto de relações de concausas, correlações e aleatoriedades determinísticas e não determinísticas. Com o meu ego se encontrando entre um abismo infinito do desconhecido e entre o tempo de queda, a mim finito, que me leva a conhecer, enquanto caio, o poço trágico que é a vida. E os néscios a bravarem em Kruger o infinito que desconhecem no tempo inicial de queda, a escabujarem como crianças órfãos do sentido, castradas pelos assertivos juízos defronte a consciência do desejo e da morte que outroras os grandes deram. Em assertivas decisões de inércia somam-se e têm como igual a zero as conceituações filosóficas e as impressões imagéticas poéticas extrínsecas a vós que postergas. Oh, não se sujeites aos estólidos e pusilânimes ante a vida. Sois, herois, o colosso pujante e flamejante da elegante e justa honra. Honra esta posta há deveras tempo como algo não mais fundante, sequer virtude. Tu és a areté a quem deve almejar o homem; o modelo que se deve adotar como o parâmetro para ser a métrica de diversos questionamentos de ordem estética, epistemológica e eudemonológica, como a aqui posta, e assim por diante.
Na angústia do meu ser, eu ressignifico como uma aflição construtiva, em uma das minhas obras não publicadas, a angústia do grande dinamarquês, para não citar nomes; o cume do ato de um estroso, eis um dos indicadores de que meu ambiente não me propicia ser outrem, pois é por deveras um reforço positivo para o ser que julgo e julgam-me ser quem sou. Porquanto, no cinismo momentâneo do caro Diógenes, vejo-me como mais um humano noviço nas artes e nas ciências e, assim, sorrio como um La Rochefoucauld a procurar sentido na moral burguesa e aristocrata da época e não passar pelo seu crivo ou como o Mozart que desdenha de si mesmo ante o infinito que desconhece, mas não em relação aos seus contemporâneos.