Tô na Pista
Escrever é entrar na pista e nela seguir adiante, seja a pé, de muleta, de carro, de bicicleta, correndo ou trotando. As linhas podem ser retas, curvas, passar por montanhas, praias, areias do deserto ou oásis. Basta seguir letrando. Cada palavra completa uma linha, e cada linha é um trecho da pista.
Há paradas para lanchar, embaixo de uma árvore, em um jardim florido, no campo, na cidade. Em todo lugar há espaço a percorrer. Sempre haverá um lugar vazio para começar a escrever: vielas, ruas, caminhos estreitos, trilhas, avenidas. No fim, todos esses trajetos se tornam uma única pista.
Essa pista fica engarrafada com tantas letras, frases, palavras, sujeitos, verbos, substantivos. Tudo se torna letra, na pista preta que agora se transforma em duas cores: preta e branca, tom sobre tom. E, em meio a isso, algumas palavras se destacam para brilhar. Amarelo, vermelho, azul — são detalhes que servem para recordar, grafar, eternizar o grande momento da passagem nessa pista envolvente.
O garoto pensa, pensa, mas falta energia para sair da inércia. Bastaria um toque para deslizar, começar a se mover, ir e vir, rasurar e corrigir. Há buracos na pista, falta coesão para a razão. E o fim? Falta criação, alegação, negação, sustentação. Talvez não. O que importa é viajar na pista, colorir os pensamentos em vários momentos.
Explicar para quê? O quê? Não é preciso. Basta manter o ritmo. As letras caem e voltam, trocadas em rimas e poesias. Tudo é ser. Pode anoitecer, amanhecer, entardecer — o uso é contínuo. Sempre haverá algo, basta querer pôr na pista o que se deseja esclarecer.
Ver, ou talvez ouvir, na voz de um locutor ou narrador. É só entender para conhecer a pista oculta, esse novo saber que se revela a cada passo escrito.