Minha urbana natureza

Fim do dia, a volta para casa, o engarrafamento. Olho pela janela do carro, um mar de faróis e eu divago...

Sonhando em passar uns dias, nas férias, em um lugar simples com natureza exuberante...

Uns dias de sossego, uns dias de paz...

A cidade grande me cansa...

Ou, eu estou cansada de mim?

Quero férias na natureza.

Quero férias da minha própria natureza...

Sou como a cidade. Integrada a ela já faço parte. Como uma avenida, como uma praça...

Tenho belezas e violências.

Amplos espaços, grandes congestionamentos de pensamentos.

Belas paisagens, trânsito intenso de emoções e sentimentos.

Hora acolhedora, hora assustadora.

Eu tenho ruas iluminadas e vielas sombrias, completamente desconhecidas de mim mesma que me causam espanto...

Tenho em mim lindas praças com jardins floridos onde a minha inocência corre e ri como criança...

Com tanto concreto preciso confiar que as árvores em mim darão conta de produzir o sutil, o oxigênio que preciso...

Grandes shoppings ao lado dos templos sagrados. Quero ficar mais tempo no meu próprio templo...

Na cidade engarrafada pouco olho para o céu.

Na natureza vejo, quase sem precisar olhar, as estrelas no céu.... O meu céu sagrado é lindo, estrelado...

Será que a cidade também quer férias em um lugar tranquilo com natureza exuberante?

Será que a cidade é ? Ou é como eu, que

apenas estou?

Ao menos eu posso ir a outro lugar. Será que consigo buscar na natureza de fora, o que me falta na natureza de dentro?

E a cidade? Consegue ter paz e sossego?

Talvez a cidade seja, ela própria, um lugar que tudo possa integrar...

Por que eu acho que há mais beleza somente onde há mais natureza?

Talvez a beleza da cidade esteja em saber conciliar o dia barulhento com o silêncio da sua madrugada sem conflitar....Como será a alma da cidade? Talvez no silêncio ela saiba melhor se expressar...

A minha alma é assim. Não se expressa se estou muito barulhenta.... preciso de silêncio dentro.

Será mais fácil conseguir silêncio na madrugada? Da alma?

Se o silêncio é da alma, adianta ir buscar em lugar de natureza simples e exuberante?

Talvez na natureza seja mais fácil achar silêncios que na madrugada, da alma...

Talvez eu vá na natureza e lá me encha de silêncios para trazer para cá, onde não sei bem encontrar... não é fácil ficar acordada na madrugada da alma.

É um difícil despertar, tantos barulhos para silenciar....

E se sou como a cidade, poderia eu também tudo integrar? Barulho, silêncio...

Ter paz, sossego aqui? Agora?

Ouço buzinas.

Voltei! Respiro. O trânsito andou.

Eu preciso andar...

Um riso vem lá de dentro, do meu templo...

Sigo em paz, silenciosa, sossegada...

Tatiana Maíta
Enviado por Tatiana Maíta em 07/09/2024
Reeditado em 07/09/2024
Código do texto: T8146551
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