A paz que o Cerrado me traz

Quisera eu ser capaz de retratar, de forma tão fidedigna, em prosa ou em poesia, em música ou fotografia, a paz que o Cerrado me traz.

Tudo começou ainda na juventude, anos dourados de descobertas, daquele encantamento sagaz, que os ares da adolescência nos traz. O ano era 2001, o local era a Chapada dos Veadeiros. Mal sabia eu que aquela viagem era o marco de uma grande paixão que duraria toda uma vida. Não apenas o despertar de uma paixão, mas o florescer de um estilo de vida.

Reflexões foram despertadas ali. Uma nova forma de enxergar a vida nascia em mim.

Desde criança, na realidade, a natureza me causava esse efeito contemplativo. Mas isso restringia-se à caminhadas no Parque próximo, com ares de floresta de quintal. Na companhia de meus pais e de outras crianças, em meio à festa diária que os macacos-prego faziam no local. O canto das cigarras, os enormes abacateiros. Os aromas dos jatobás. Tudo isso era muito acolhedor e eu não estava ali somente para correr e brincar, como talvez fizesse a maioria das crianças. Esse ambiente me despertava algo mais profundo. Sempre foi assim.

Mas ali, ao me dar conta da imensidão do Cerrado, de suas belezas em proporções até então inéditas para mim, isso foi um descortinar de emoções. Uma nova Ana surgia. A Ana que começava a ver de perto o Mundo, aquela que iria planejar incontáveis viagens, conhecer novas culturas e novas paisagens. E escrever sobre todas essas sensações e aprendizados. Escrever sobre percepções e projeções. Sobre ideias e emoções. Profundas reflexões.

A Ana que descobriu que gostava de fazer trilhas, às vezes exaustivas. O efeito que o exercício físico em meio à natureza me causa é muito mais que endorfinas sendo liberadas. É uma mistura de paz e liberdade. De gratidão ao Universo.

Banhos de chuva depois da trilha, refrescando o calor, purificando o suor. Lavando a alma. Benção divina.

Apreciar a vista após a árdua subida num sol escaldante. Um banho frio de cachoeira. O que muitos diriam "programa de índio", para mim tornou-se uma terapia, uma necessidade. Mais que isso: uma oportunidade de renovar as energias.

Me fez entender que nosso verdadeiro lar, está dentro de nós. A paz e a conexão com o Sagrado, que tanto buscamos também. E contemplar de perto a natureza é um dos caminhos para encontrá-la.