Perda
Amparada por filhos e noras,
ela chegou da cerimônia onde
beijou pela última vez o amor da
sua vida.
Naquele momento
era confortada por todos,
e até mesmo bajulada,
coisa que não acontecia havia muito.
Vencida pelo cansaço, foi para a cama.
De lá, ouvia-se os sons da área externa
que, respeitosamente e quase que em meio ao
sentimento de culpa,
recuperava precocemente a vivacidade
da normalidade.
Ela dormiu.
Quando acordou,
apenas o silêncio se encontrava
presente ao seu lado.
Sentiu vontade de chorar,
porém suas lágrimas eram tímidas
e desde outrora eram pouco afeitas
a inundar as linhas de expressão.
Com moderada dificuldade,
levantou-se e
preparou um café.
Consultou as horas no relógio
imortalizado na parede: ainda era cedo.
No velho rádio de pilhas, ouviu a previsão
do tempo, o dia prometia ser quente,
ideal para o preparo da massa do pão.
Seus netos adoravam o pão caseiro da vovó.
Ao raiar do dia, saiu apressada para
comprar mais farinha e ovos.