Repaginar
Pouco sol, pouca chuva, poucas vontades.
Os dias seguem tão mansos dando a impressão
de que não vai mais cair uma outra noite.
Quem me viu por aí, digo que foi um engano,
eu já não estou mais em parte alguma.
Sobrevivo à mesa, alpendre solitário de quintal,
sem vontade, sem saudade do que não vivi.
Opções vazias, livros espalhados, noites frias.
Perante o final de tarde, o pássaro solitário canta
no alto do telhado... caneta sem força, e quieto
o computador, num eterno instigante indagar!?
_Não vai mais escrever? Onde está o seu amor?
O que você faz aí tão silenciosa e pensativa? Escreva
uma carta apaixonada ao seu amado, conte outra vez
desse amor. E triste respondo... _ Ele não quer mais
o meu cansativo (eu te amo) não me ouve, escondeu
de mim a sua alma e o seu lindo sorriso recolheu,
mais discreto do que nunca se tornou, ele me esqueceu.
Então foi assim que aquietei o desejo de ser feliz,
que triste é amar sem ter amor. Pela sombra eu vou,
sem nenhum papel nesse cenário, nada para repaginar,
sem passado, sem presente, calou em mim qualquer
jeito de história para contar, feito um pálido peixinho
que aos poucos se apaga no aquário, sou um peixe
diferente, quase morrendo fora do mar.
Liduinado Nascimento