Outra noite
O sono acomodava os pensamentos,
vencido estava o dia, nas flores coloridas
guardada a efêmera dedicação.
No olhar, um rosto nas flores, se fixara,
tantas outras como os sonhos murcharam,
antiga era a sua ilusão.
O inexistente de repente se tornara
distante. Era como lembrar dum amor silencioso
perdido, foi exagero, as páginas em branco
à cabeceira.
Nunca tanto silêncio como esse de agora,
o pulsar no ritmo da ventania lá fora.
A falta de inspiração causava alívio, esquecer-se.
Quem sabe o amanhecer lhe traria de volta.
Outra noite...
Quanto aos poemas, agora não... É que os poemas
da noite saem sempre mais exagerados,
angustiados, perdem a razão. Luz apagada, nítida
claridade da lua com gosto chegava a melancolia,
tão longa a noite, longe está o querer alcançar
o outro dia.
A porta aberta à esperar chegar o medo, o sono
apagou os sonhos, não se atreveria à escrever sobre
o que desagradasse uma sã alma, restava dormir
desprovida de emoção, o perigo estava mais dentro,
do que na rua.
Liduina do Nascimento