A Choupana

 

Lá onde eu morava as árvores mudavam de lugar. A cada dia, o curso do rio tomava um rumo diferente. Assobios chegavam até mim, e eu não sabia se era o farfalhar das folhas, conforme a brisa gelada me abraçava, ou se seriam os peixes agitados no fundo do lago.

 

Eu me sentei na beira do lago, apreciando aquele silêncio todo, aquela quietude toda. De repente, meu filho apareceu na construção de madeira do outro lado e acenou para mim. Logo depois, dois garotos negros de vestes iguais apareceram ao seu lado.

 

Bem lá no alto, fitei a choupana de cor de terra avermelhada. Uma brisa fria a envolvia, brumas por todo o lado; a fumaça saindo calmamente de sua chaminé. Eu sorri vendo tudo aquilo. Uma felicidade sem igual se apoderou de mim, enquanto eu pensava em tudo que já havia feito. E fiquei sem palavras. Aqui embaixo, eu continuava sentindo o mormaço dos raios solares queimando a minha pele...

 

Fiquei encantado comigo mesmo, em como eu havia construído tudo aquilo. Foram tantos momentos que se passaram, e eu já não me sentia mais o mesmo. Histórias ficaram para trás; histórias que eu recontaria mil vezes. Meus pensamentos me levaram para longe, e quando retornei a mim, levantando minha cabeça novamente para o alto, percebi que alguém lá em cima acenava para mim. O vento me trouxe vozes; vozes que me disseram que alguém queria me ver.

 

Fiquei confuso, perplexo, pois, no fundo, eu não queria sair dali. Disse a mim mesmo que o tempo passasse e levasse tudo embora. Tentei encontrar meu filho do outro lado do lago, mas ele já se fora também. A fumaça continuava lá em cima, as brumas persistiam. Um vento gelado assobiou passando por mim. Agitou folhas. Bagunçou a água do rio. Os pássaros cansados seguiram seu destino.

 

Eu fitei o horizonte e a choupana lá em cima. E então, aquele que me esperava já não estava mais ali.

Camila Carelli
Enviado por Camila Carelli em 01/09/2024
Código do texto: T8142129
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