Asas de cera
Há como controlar o coração?
Acredito que não. Veja, tenho por muitas eras conseguido controlar meus sentimentos por ti. Nossa amizade sempre me fez feliz, pois nunca encontrei algo parecido em uma amizade e nunca quis que meus sentimentos atrapalhassem essa inexorável situação.
Ver teus defeitos tentei, mas como dei a entender antes, não há como controlar o coração. O maior problema é o quão espontâneo tu és, tua presença e luz enchem uma sala. Tua atenção, teu toque… por que tua luz toca as pessoas assim? Às vezes o calor proporcionado por essa radiação desperta sentimentos fortes e confusos em algumas pessoas e… bom, sou uma delas.
Tu és um astro muito interessante e, ao mesmo tempo, nada aberto. Mas não importa, todas essas eras tu me revelara pequenos detalhes teus que expunham tuas características de vida… ah sim, não tenho a mínima pressa em estudar mais sobre ti, desejo que diga as coisas pessoais da mesma forma que tu és, espontânea, sem pressão, pois dessa ação tu já sofres demasiadamente.
Tens um sorriso encantador, sabe, geralmente a sociedade exige sorrisos que não sejam muito reveladores, mas tu não te preocupas com isso. Teus sorrisos, no geral, são radiantes, ou é isso ou é minha percepção deles.
Para mim teu sorriso é como um resumo do que tu és, ó astro dos astros, o próprio Sol… o Sol ao qual meu coração orbita mesmo que tenha o desejo de se afastar. Por isso te chamarei de Soleil! Ao falar Sol, é difícil sorrir, mas com Soleil é possível enfeitar a face ao dizer teu nome.
Soleil, não sei o que sinto por ti exatamente. Minha carne deseja teu incandescente toque e deseja que seja possível ser cada vez mais íntimo. Meus olhos desejam admirar-te. Meus ouvidos querem ouvir-te bem de perto. Minha boca deseja o teu sabor. Meu nariz quer estar próximo o suficiente para saber o teu cheiro, se é que o tens. Minha mente deseja descobrir-te das brumas que o cercam. Quem és Soleil? Meu coração deseja consolar-te e dar-te conforto. E, por fim, minha alma deseja se unir com a tua na consumação de todos esses desejos.
É uma paixão o que sinto, Soleil? Ajude-me a entender… nunca senti tanto medo de perder a luz amiga de meus dias. E se eu contar? Se tu me aceitares, como seria isso? Iria embora esse sentimento? Depois de tantas eras, será que te idealizei? Mas eu sei alguns defeitos teus… mas… mas e se tu não me aceitares? Mudarias tu o jeito que me tratas?
Mudarias teu olhar por mim? Soleil, estou sofrendo com essas questões, não quero que te afastes de mim por causa disso.
Tenha certeza de que se me negares, esforçar-me-ei todos os dias para mudar o que sinto por ti. Não esconder, mas mudar, esconder eu já escondi e isso não é algo que Cronos carregue nos braços para longe.
Mas isso é o de menos, o que me atormenta é se irei atender às expectativas tuas. Não quero decepcionar-te, não quero mudar minha relação de fraterno aconchego em teus raios para investir em algo que poderia chatear-te e tu te afastares de mim, afastares tua luz de mim e me deixar na completa escuridão do vácuo.
Por isso não sei se namorar-te-ia, eu gostaria, mas talvez tu tenhas expectativas que minhas humanas condições não possam atender num curto espaço de uma vida.
Mas eu sei o que me deixaria feliz. A mim, de todo o mundo, a felicidade viria se pudessem meus lábios tocarem a tua escaldante superfície, te fazer um carinho, segurar tuas infinitas mãos, te abraçar de maneira profunda e sentir toda a extensão de teu corpo celeste. Desejo olhar-te profundamente nos olhos e ver-te para além de tudo o que se é conhecido e desconhecido.
Eu odeio quando tua luz toca-me, pois eu quero mais. Eu desejo teu contato, mas não o quero, pois me faz sofrer por não o ter do jeito que quero.
Soleil, teu calor queima minha carne todos os dias quando acordo, mas depois que isso passa, só quero conversar contigo sobre qualquer coisa e, olhando para os céus, fazer-te rir, fazer-te feliz, dar-te todo o carinho do mundo.
Soleil, enlouqueço contigo. Não sei se sou o suficiente para ti.
Soleil, saibas que mesmo que eu não fale e esconda os sinais, tu tens total acesso a mim, quando e como quiser. Nunca escaparei de tua luz, por mais que por eras eu tenha me abrigado nos lençóis da Lua. Uma palavra que digas e me entregarei a ti, mas com muita vergonha… entenda, não estaria eu proclamando palavras tais numa noite de verão à escura mortalha intermitente de Morfeu se não tivesse vergonha. Eu sei, seria muito mais fácil dizer-te pessoalmente do ponto de vista lógico, mas estamos falando de sentimentos aqui.
Talvez haja o dia em que te direi isso de teu nascer até teu repousar. Talvez, pois foi nesta emocionalmente fria noite de solidão que encontrei o momento para dizer tudo aquilo que não tenho coragem de dizer-te com medo de perder-te.