Uma chance
Aliocha procurava seu apartamento. Com seu pequeno guarda chuva e suas pequenas pernas, lutava firmemente contra as gotas furiosas daquela noite. É verdade que, de tempo em tempo, algumas pessoas, normalmente as senhoras já encurvadas pelo peso do tempo, perguntavam-lhe onde estava, ou se estava perdido. Contudo, era garoto obediente: não falava com estranhos, ou melhor, só lhes dizia uma só coisa: “eu procuro o Sol… digam-me se o virem!” Algumas riam, confesso, outras enchiam os olhos. E assim Aliocha continuou sua Odisseia. Sempre obediente: sem olhar para os lados, somente para as luzes dos altos postes, que, como lhe haviam lembrado, lembravam os antigos dias áureos. A cada passo, uma nova poça d’água infiltrava seu calçado. A cada passo, avenidas, esquinas e becos desertos eram descobertos. A cada passo, mais perdido. Mas era garoto obediente. Ainda que o peso da frustração lhe pesava a cabeça, olhava para o alto. E olhando para as mais altas luzes, creu; isso foi-lhe imputado como justiça. Aos poucos, as ruas tornaram-se conhecidas, as esquinas já lhe davam memórias, e depois de noites, o menino havia chegado na porta de sua casa.
Da janela, uma menina encarava a rua com olhares de pêsames, já sem esperança. Mas seu desânimo logo converteu-se em pavor: um vulto se aproximava de sua porta. Desceu as escadas às pressas, pegou o primeiro utensílio de cozinha que viu, foi para a porta e preparou-se para a luta… até que finalmente percebeu. Abrindo a porta aos poucos, viu que a sombra não era tão alta ou amedrontadora quanto parecia, nem tão grande, nem tão desconhecida… Em meios a beijos e lágrimas, a garota balbuciava “meu irmão…” e o garoto respondia, um pouco cansado e decepcionado: “não achei…”.
- “Você não precisava encontrar nada… não se culpe por algo que estava fora do seu controle”, falou a irmã do jovem.
- “Mas era isso que nossa mãe queria! Como posso deixar seu legado morrer? Como vamos continuar vivendo de noite em noite?”, respondeu o garoto lentamente enquanto entrava em casa molhando o chão de madeira.
- “O verdadeiro Sol, Aliocha, sumiu; você nunca chegou a vê-lo”.
- “Eu sei…, por isso estava a procurá-lo!”.
- “Ah, garoto, não entendeu ainda o que realmente ilumina?”.
- “Não…”.
- “O amor. O amor ilumina a densa treva, então mais importante que ir em busca do Sol que iluminará todos, ame. Então, amando, haverá luz”.
- “Mas quando e como tudo será iluminado?”.
- “Ah, no dia que o amor descer. Agora, quando? Isso não sei, mas eu sei o que devemos fazer enquanto isso. Não buscar soluções próprias, mas esperar…”