vínculos reais
quem te enxerga quando você se esconde?
quem te procura quando você some?
quem te tolera quando você se exalta?
quem te levanta quando você cai?
quem te anima quando você se entristece?
quem te direciona quando você se perde?
quem te escuta quando você se expressa?
quem te compreende quando você se cala?
quem te admira quando você se expõe?
quem te ama quando você não tem nada a oferecer?
tenho refletido sobre silêncio e vínculos. distinguir quem quer estar perto porque gosta de quem você é e não do que pode oferecer é crucial para estabelecer vínculos saudáveis. é bom demais interagir, mas é preciso estruturar muito bem os limites disso. aprofundar-se em uma relação não baseada em reciprocidade é se ferir aos poucos, é remar em vão, é esperar ganhos tendo certeza da derrota.
na loucura da pressa que a existência exige, é bom respirar fundo com a certeza de ter um abrigo seguro pra ir.
eu me fiz observadora. abracei o silêncio e a ausência e vi a vida seguir. não na tentativa vitimista de se projetar como protagonista da vida alheia, mas na missão de compreender a fundo a minha responsabilidade na criação de ilusões que eu mesma projetei sobre o outro. precisamos aceitar nossa insignificância de vez em quando.
será que as conexões fazem sentido? será que o problema que enxergo não fui eu quem criei? será que futuramente me vejo com os vínculos que tenho hoje? estou gastando energia por 2, 3, 4? quão grande é a minha necessidade de aprovação? o que eu penso é real ou projeção?
amo compreendendo que o outro não é fruto da minha idealização, amo enxergando a imperfeição do outro, amo tendo consciência de que solidão e amor caminham juntos, amo entendendo que o amor é uma via de mão dupla. amo construindo bases sólidas pautadas na realidade e destruindo castelos de areia construídos pelas minhas expectativas. amo entendendo o que é e não o que pode ser. amo o que enxergo e não o que projeto. amo entendendo que o amor é leve e que a responsabilidade de salvar o outro não é minha.
despi as máscaras,
rompi os vínculos,
cessei as satisfações,
escondi os planos,
abracei a ausência
mergulhei pra dentro de mim
que só os vínculos reais
permaneçam aqui.