Um bom lugar
Sento-me à beira da janela, observando o mundo lá fora como uma estranha em minha própria vida. O sol brilha, mas parece que estou presa em uma noite eterna. Por tanto tempo, deixei que as sombras de minhas emoções me envolvessem, e a vontade de viver se esvaiu, como um sopro de vento que leva as folhas secas. A vida continuava, um dia após o outro, e eu me perguntava: quando foi que deixei de ser a protagonista da minha história?
Mas houve um dia, em uma rua desconhecida, que algo despertou dentro de mim. O cheiro do pão fresco me envolveu, o riso de crianças brincando me fez sorrir, e a música que escapava de uma janela aberta ressoou como uma melodia familiar. Era como se, pela primeira vez em anos, eu estivesse ouvindo os sussurros da vida me chamando de volta. E percebi que não precisava de alguém para me resgatar; a resposta estava em mim mesma.
Decidi me aventurar pelo mundo, não em busca de alguém que me completasse, mas em busca dos meus próprios pedaços. Viajei por países que nunca imaginei visitar, absorvendo a essência de cada lugar. Dancei sob a luz da lua em uma pequena cidade na Itália, cozinhei pratos exóticos em feiras no Marrocos e ouvi histórias de vidas distantes em cafés parisienses. Cada experiência me fazia sentir mais inteira, mais viva, mas havia um vazio que persistia.
Recebi amor ao longo do caminho — amigos que se tornaram família, encontros fugazes que deixaram marcas e o carinho de estranhos que me acolheram. Mas, por mais que tentasse, sentia-me como um pássaro sem ninho. Voava de um lugar para outro, mas sempre voltava ao mesmo ponto: a busca por um lar dentro de mim.
Foi em uma manhã ensolarada, enquanto caminhava por uma praia deserta, que a epifania me atingiu. O som das ondas quebrando na areia, a brisa suave que acariciava meu rosto, tudo parecia sussurrar que eu já era um lar. As cicatrizes que carrego, as memórias que me assombram, agora se revelavam como partes essenciais da minha jornada. Em vez de fardos, eram marcas de um caminho percorrido, testemunhos da minha resiliência.
Finalmente, ao olhar para o horizonte, percebi que estar quebrada não significava estar perdida. Era um convite para reconfigurar minha identidade, para me reconstruir com cada pedaço que encontrava. E, assim, em minha própria companhia, encontrei a vontade de viver — não apenas por aqueles que me amavam, mas por mim mesma.
E naquele momento, com o céu limpo e vasto à minha frente, finalmente me senti em casa.