Lonjuras

Observo o tempo com sua distância lá no horizonte de águas salgadas. Assopro para longe as lembranças junto com o vapor do chá quentinho que exala da caneca que seguro firme em minhas mãos. Daqui já não parecem tão poucos anos, mas muitas vidas. Infinitudes e lonjuras em perfeita comunhão. O tempo, que passa às vezes arrastado, ou faz falta no dia a dia. É o mesmo tempo que parece acelerado olhando de longe quando já é passado. Carregado de tantas histórias e tanta intensidade que a matemática não faz jus a magia da vida. Tantas recordações que ficaram para trás e a memória queria resgatar. Tantas fardos que persistem e o coração queria esquecer. Voltar no tempo. Viajar no tempo. Reter o tempo. Desejos tão genuinamente humanos. Se nós pudéssemos ao menos aprender a lidar com o tempo já seria perfeito. Sem compreender, ou controlar. É só isso que meu olhar tenta captar nesse instante de nostalgia. É um fato. Tantas vezes me perco nas lembranças de mim. Não quero voltar. Aprendi a amar cada pedacinho da longa estrada. Meu retrovisor é um farol. Ilumina onde já andei. Às vezes dá saudade. Mas, hoje eu sei que amanhã também vou sentir saudades da história que teço na poesia deste cotidiano. Gosto de observar o tempo com toda sua plenitude. Com suas nuances. Suas esquinas, tropeços, entradas e saídas. Hoje estou inteira. Nada me prende a quem já fui, nem temo quem posso vir a ser…

*Si*

Simone Ferreira
Enviado por Simone Ferreira em 16/08/2024
Reeditado em 16/08/2024
Código do texto: T8130509
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