Papai

 

Não dá para deixar passar em branco o dia dos pais, o meu pai, ficou para sempre marcado bem dentro de mim... Pedro, nome forte, homem forte, de uma honestidade e integridade indiscutível, mestre Pedro era um nome respeitado na Casa Popular, hoje, bairro Henrique Jorge... dele, não conheci um só inimigo, ele era muito querido... Meu pai era um homem simples, que deixou para trás, muitas terras e uma historia marcada por sua época onde o pai era a voz predominante, da qual ele quis fugir, eu diria que ele deixou uma fonte de riqueza, dela abriu mão, o seu sonho era o de ter a sua liberdade, de ser um homem independente e feliz, sem se curvar a ninguém, e assim o fez... eu diria que ele era um boêmio... gostava de Cartola, Nélson Gonçalves, Francisco Petrônio, tinha uma linda voz... ele cantava para me fazer dormir, lembro disso com nitidez.

 

Dançar? Dançava como ninguém. Ele se vestia de linho branco, com o seu chapéu de massa, essa era a sua marca. Pedro, que veio ao mundo numa eterna festa, nunca havia tristeza para ele, era só sorriso, e a sua alegria era contagiante, fazia encobrir em mim, futuramente, as dificuldades e as tristezas... e não foram poucas. Meu pai, vivemos tudo, fomos amigos, companheiros, cúmplices, mas principalmente apaixonados pela vida! Disso eu nunca abri mão, apesar dos dissabores.

 

Ensinou-me a dar os meus primeiros passos, me esperou ansiosamente, quando veio um, dois, três filhos homens, de mim, ele não desistia e já tinha o meu nome esperado com ansiedade, ele me chamava com muito gosto de : Aurenir, era o nome que ele havia escolhido, similar ao nome da minha mãe, que era Áurea.

 

Meu pai, Pedro Florêncio do Nascimento, que me ensinava sempre o rumo certo, embora muitas vezes ele mesmo o errasse, me deixou ser criança, e quando me tornei mulher também me aconselhou e ajudou em meus tantos tropeços. Foi um avô amoroso, os meus filhos tinham por ele muito amor, defeitos? Quem não os teve ou tem?

 

Eu amei ser sua filha, em seu sorriso sempre me espelhei... ele me dizia sempre o quanto eu era importante para ele e me dizia o quanto ele era feliz, do jeito dele. Nos seus últimos passos, quando já cansado, vencido pelo tempo... ele dizia que viver valia muito a pena. E por falar no tempo, foi o meu pai quem me ensinou sobre as horas, o meu primeiro relógio foi ele quem me deu...

 

Eu sempre fiz de tudo para que não se sentisse sozinho, sinto saudade das nossa cumplicidade, nunca apontou os meus erros, antes me dava uma palavra amiga e de conforto, sinto muita saudade dele, em todos os dias da minha vida. Papai! Te amo igual e para sempre... Não escrevo para você, mas para mim mesma, num jeito de amenizar essa saudade.

 

Era um poeta e não sabia, eu sabia sim, Mestre Pedro era um homem prático, simpático, vivia de bem com a vida, para ele não havia tempo ruim, quando chegava em minha casa ele dizia: _ Faça aí um cafezinho, e vinha sempre com as mãos cheias de mimos para nós... não aprendeu a ler, nunca frequentou uma escola, mas, foi ele quem construiu o primeiro colégio que eu estudei. Ele dizia; - Minha filha você tem que estudar, ninguém é nada sem o  estudo.  - E ele foi muito importante para mim.

 

O meu pai era pedreiro, não um pedreiro qualquer, ele começava a casa pelo alicerce, calculava cada pedaço de chão, fazia orçamento, com o seu lápis na mão e outro na orelha, comprava o material... Depois fazia a construção, tinha o orgulho e a alegria de entregar a a casa pronta, com as chaves em suas mãos. Tenho o orgulho em dizer que ele era o melhor pedreiro da sua época, ele era sempre muito educado, respeitava todo mundo, e uma boa conversa, não lhe faltava não.

 

Só andava bem arrumado, limpo, cabelo bem penteado, bigodão, com ele não havia segredos, e me deixou uma lição; Ser feliz aqui na terra minha filha, é uma missão. O meu pai, com certeza, iria estranhar-se, hoje desse mundo muito louco, pois é papai, nele, sobrevivo... Papai, o tempo levou de mim, além de você, tantas pessoas, a vida hoje não é mais a mesma... só saudade de tudo o que vivemos e fomos, me restou. Diria para você hoje, que também sou muito feliz, pois soube um dia conviver com você e chamá-lo de papai, meu pai, amarei você eternamente.

 

 

 

Liduina do Nascimento
Enviado por Liduina do Nascimento em 10/08/2024
Código do texto: T8126143
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