Ao meu poeta

As cantigas que deitas quando a noite vela os prados verdejantes desta fazenda que fora legada pelo teus progenitores modernos regozija minha alma. Ao cabo das canções entusiasmadamente decantadas, sinto-me aduzida a tempos mais simplórios e menos velozes. Sinto-me, meu trovador, meu vassalo, tua amiga, tua amada e contemporânea à Luís Vaz de Camões, o poeta máximo. Senhora de tuas cantigas de amor. Sinto-me a Marília de um certo Dirceu, depois repreendido e contrabandeado legalmente a Moçambique, qual os escravizados africanos, com a diferença de que fora no sentido oposto; olhando-o, da janela, palmilhar por entre os pastos, por entre as ovelhas, empunhando teu cajado, alçando este cetro sacro aos céus enquanto galga ao cimo do vale que defronta a nossa pequena e paupérrima residência, para, de lá, descansar a vista sobre os campos floridos. Flores que recendem uma miríade de aromas, coadunando ares bucólicos, que, qual nosso amor, não fenecerão. Sinto-me, meu romântico indianista exilado para a antiga metrópole, para além-mar, para onde as aves não chilreiam como cá, e não cantam os sabiás, tua Iracema jocunda, de lábios melífluos e cabelos negros que excelem o negrume da asa da graúna. Nativa ideal com que engendra a primorosa identidade de um povo. Sinto-me o molde para teu estilo perfeito, a tua Forma, a quem tu servirás incondicionalmente, a quem não contestas, a quem defendes. Sinto-me tua.