A Colheita

E saíram todos rogando de altares

Orando aos anjos, pedindo clemência

Todos unidos, de mil a milhares

Reclamando à morte, sua impaciência

Pois da vida rígida que tanto apedreja

Só lhe cabe a névoa que agride na ausência

Desta Intempérie, agora então veja

Como o temporal faz o solo fecundo

Talvez até uma leve brisa que seja

A calmaria pro caótico mundo

Onde a jornada assim se inicia

Vai do início ao final profundo

Como a carta escrita em poesia

D'uma alma negra que já foi poeta

Em palavras tênues a cortesia

Como assim diziam os profetas

Onde a virtude humana se aquece

Nas atitudes raras mas concretas

Da real beleza, certo não se esquece

Que o espírito nobre engrandece o homem

E o homem só tem o que merece

Muitos passam a vida sem sobrenome

E acabam morrendo de tristeza

Vivendo na sede e na fome

Mesmo tendo tamanha riqueza

Do que adianta ter tantos bens

Se na simplicidade é que mora a beleza

E ao seu lado não tem ninguém

Que suporte tamanha ingratidão

Querendo fazer do amigo, um refém

É pobre o homem que não tem compaixão

E não divide nada do que tem

Vive no mundo a fazer má ação

E só faz o que lhe convém

Se na terra não tiver lei que funcione

Eu sei bem certo o lugar que têm

E depois da morte, mesmo que emocione

Vai ser julgado por um outro alguém

Esse alguém talvez não se impressione

Com o teatro que você mantém

Em verdade afirmo que se colhe

Somente aquilo que se foi plantado

Espalha a semente e quer que o outro molhe

Mas o fruto só você quer ter degustado

Dono de um egoísmo puro

Sem fé e desacreditado

O homem que contrói o muro

Quer separar o certo do errado

Quer viver a vida em penitência

Agredindo o próprio corpo com um relho

Abusando da auto violência

Mas recusa-se a ouvir um conselho

O maior pecado que tanto pratica

É querer fazer do mundo, seu espelho

Recomendo então que escute esta dica

Antes que o julguem e condenem

Pois a verdade é a única que fica

E antes que à ti ordenem

Ser morto ao pedestal da praça

Não espere que os outros acenem

Pois estarão rindo da tua desgraça

Welerson Recalcatti
Enviado por Welerson Recalcatti em 01/08/2024
Código do texto: T8119919
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