Sombras da inocência perdida

Desde cedo, fui tocada por mãos que não compreendiam a delicadeza da inocência. Minha pureza parecia um convite, um sinal verde para invasões indesejadas. Cada toque, cada palavra, pareciam selar um destino que não escolhi. Hoje, olho para trás e mal reconheço a criança que um dia fui. O brilho nos olhos de antes deu lugar a uma sombra de desconfiança e dor. O que era para ser um capítulo de descobertas e alegrias se tornou um peso difícil de carregar. Minha inocência não era um convite, era uma fragilidade que os outros não souberam respeitar.

Fui ensinada a gostar desse falso afecto, dessa distorção do que deveria ser amor. Palavras doces disfarçavam intenções sombrias, gestos invasivos eram camuflados como demonstrações de carinho. Cresci acreditando que aquela era a forma como o mundo funcionava, que essa era a linguagem do amor. Mas agora, com os olhos abertos para a verdade, vejo que fui enganada, que minha inocência foi manipulada para servir aos interesses dos outros. E é doloroso perceber que o que me ensinaram a gostar era apenas uma sombra distorcida do verdadeiro amor, um amor que respeita, protege e nutre, e não explora e machuca.