O gari no inferno

Já faziam anos que o gari José

Bisbilhotava o lixo de Maria

Abria o saco preto

Sem perder um dia

Tudo para ler as cartas

Relatos em anis

Rotinas que pareciam melhor

Que contos de Machado de Assis

Quando chegava em casa a tarde

Juntava os pedaços obtidos

E pregava tudo numa sequência

Já eram mais de cem livros

Escritas de próprio punho

De uma pessoa anônima

Que por coincidência era Maria

Mas não importava se fosse Antônia

Até notar que no lixo de Maria

Nenhuma carta mais apareceu

Bateu na porta da mesma

Soube que ela faleceu

E logo fez tremer sua alma

A cruel possibilidade

De nunca mais deliciar com as rasuras

De Maria, durante as tardes

E para saciar seus vícios

Se enforcou com uma corda

Tinha certeza encontrar Maria no céu

E continuar a sua moda

Mas logo fora levado

Bem longe para o inferno

Pois Escarafunchar lixo alheio

É um pecado sério

kakaos
Enviado por kakaos em 29/07/2024
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