O gari no inferno
Já faziam anos que o gari José
Bisbilhotava o lixo de Maria
Abria o saco preto
Sem perder um dia
Tudo para ler as cartas
Relatos em anis
Rotinas que pareciam melhor
Que contos de Machado de Assis
Quando chegava em casa a tarde
Juntava os pedaços obtidos
E pregava tudo numa sequência
Já eram mais de cem livros
Escritas de próprio punho
De uma pessoa anônima
Que por coincidência era Maria
Mas não importava se fosse Antônia
Até notar que no lixo de Maria
Nenhuma carta mais apareceu
Bateu na porta da mesma
Soube que ela faleceu
E logo fez tremer sua alma
A cruel possibilidade
De nunca mais deliciar com as rasuras
De Maria, durante as tardes
E para saciar seus vícios
Se enforcou com uma corda
Tinha certeza encontrar Maria no céu
E continuar a sua moda
Mas logo fora levado
Bem longe para o inferno
Pois Escarafunchar lixo alheio
É um pecado sério