Hotel Catete: um conto em prosa poética
No âmago do sertão paraibano, onde a aridez do tempo sussurra lendas de outrora, ergue-se majestoso o Hotel Catete, custódio de memórias e ecos de uma era esplendorosa. Sua silhueta, esculpida contra o azul infindo do céu nordestino, reflete a história de um recanto onde o luxo e a simplicidade se entrelaçam em um balé eterno.
Erigido em 1933, o Hotel Catete de São Gonçalo-PB transformou-se em um santuário para aqueles que almejavam mais do que repouso, buscavam vislumbrar o esplendor. Sua inauguração, em setembro daquele ano, trouxe consigo a promessa de modernidade e conforto, um palácio erguido em homenagem ao Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, onde poder e política se entrelaçavam em suntuosos salões.
Nas suas amplas varandas, a vista para a barragem do açude desdobra-se como uma pintura viva, uma obra de arte natural que convida à contemplação serena. Foi aqui que Getúlio Vargas, em sua primeira visita a São Gonçalo, perambulou pelos corredores, inspecionando as obras do açude, cujas águas futuras simbolizariam vida e prosperidade para a região.
Durante as décadas de 1940 e 1950, o Catete floresceu como um palco de elegância e sofisticação. Mulheres envergando vestidos longos e homens em seus ternos impecáveis desfilavam pelo salão principal, embalados pelos doces acordes de boleros e tangos, tocados por uma orquestra local. Mestre Aldo, com seu trombone, e Enóide Oliveira, com seu pistom, insuflavam vida a melodias que ainda ressoam na memória daqueles que ali dançaram.
As paredes do salão são guardiãs de histórias inscritas em fotografias antigas, onde sorrisos e olhares eternizam-se. Visitas presidenciais, momentos de celebração, e a magnificência das sangrias dos açudes são capturados em preto e branco, fragmentos de uma época em que o Catete era sinônimo de luxo e exclusividade.
Nos anos cinquenta, as mudanças começaram a soprar como uma brisa suave. A culinária, sob a maestria do cozinheiro Nonato, ganhou novos sabores, e a tradicional peixada tornou-se um prato celebrado. A transformação do hotel em um espaço mais democrático refletia os ventos de mudança social, abrindo suas portas para todos, independentemente de sua origem ou status.
Hoje, o Catete vive uma nova fase, como um restaurante que ainda guarda a alma de sua história. O turismo histórico e religioso de São Gonçalo atrai visitantes que se encantam com a beleza das ilhas do açude e o mágico túnel das tamarineiras, um pedaço de Europa no sertão brasileiro. A gruta de Nossa Senhora de Lourdes, erguida por fé e devoção, continua a ser um local de peregrinação e reverência.
O Hotel Catete não é apenas um edifício; é uma narrativa viva, onde cada pedra, cada fotografia e cada memória formam um tecido rico e complexo. É um testemunho do passado, um palco para o presente e uma promessa para o futuro, onde as histórias do sertão paraibano continuarão a ser contadas e celebradas, geração após geração.