Anjos Decapitados
Na vastidão do crepúsculo, onde o silêncio tece seus segredos, voam os anjos decapitados. Suas asas, também são débeis e feridas: outrora alvas e gloriosas, agora são sombras pálidas, esvoaçando num lamento mudo. Eles não choram, pois perderam as lágrimas junto às suas cabeças, mas seus corações, ainda pulsantes, vertem o sofrimento em cada batida.
No vazio dos céus despovoados, esses seres alados buscam suas essências perdidas. Rastros de luz desfeita marcam seus caminhos, como estrelas cadentes ao contrário, ascendendo para longe das trevas que os afligem. Suas almas, entrelaçadas pelo destino cruel, vibram uma sinfonia de dor e saudade, ecoando nos recantos mais esquecidos e inóspitos do universo.
Eram guardiões de sonhos e esperança, sentinelas da paz e da pureza. Suas vozes, agora silenciadas, ainda ressoam nas memórias daqueles que acreditavam na eterna proteção dos céus. Cada anjo decapitado carrega um nome, uma história, uma promessa não cumprida, que se desfaz como névoa ao toque do amanhecer.
Os ventos sussurram suas narrativas trágicas, carregando fragmentos de verdades esquecidas. Em cada folha que dança no ar, em cada onda que quebra na praia, há um murmúrio desses espíritos feridos, clamando por redenção. Eles são a lembrança amarga do que foi perdido, mas também o farol tênue do que pode ser reencontrado.
Em noites de lua cheia, quando o véu entre o mundo visível e o invisível se torna tênue, se pode sentir a presença dos anjos decapitados. Eles se movem entre as sombras, silenciosos e serenos, buscando a cura para suas feridas eternas. A cada estrela que se apaga, um deles encontra paz, dissolvendo-se no éter e deixando um rastro de esperança para os que ficam.
Os anjos decapitados são os guardiões do esquecimento, navegando entre o céu e a terra, esperando pelo dia em que suas asas, novamente inteiras, possam levantar voo em direção ao horizonte de uma nova aurora.
FIM