Acácias Amarelas

Decifro o segredo, o guardo, trago-o comigo.

Quero conta-lo, mas como tudo, ele morre.

Morre a verdade, a sagacidade, o gosto por dissipa-lo.

Tudo é muito e no muito algo sempre volta.

Começo tudo outra vez, a verdade renasce, o segredo, a sagacidade, tudo renasce.

Quero transpassar mentes, ferir ouvidos, segredar aos passantes tudo que sei.

O Brasil suspira e mais nada!

No gosto, me contraponho, refaço meus passos,

Persigo, há algo além da serra de Sobradinho e não é só mais uma sombra ou via sonolenta.

Poeta, da minha cidade também nasce uma rua que vai dar no meu coração.

E nele cabe o homem e suas faces, cabe a cidade vermelha do lago de águas calmas.

Mas não sabem que existo.

Senhor, tendes piedade, tendes piedade dos homens,

Eles não sabem que são roubados,

A vida parece curta demais para isso.

Na curva que faço minha reflexão, mudo as ideias, mato o segredo outra vez.

Não vale a pena conta-lo, não aos cegos que veem,

Não aos surdos que ouvem.

Ode ao povo!

Ode ao conto!

Que é de meus antepassados?

Que é do cheiro de infância?

Rastros do que sou.

No bar da esquina um velho sujo cita o segredo,

O susto é grande é de um grito somente meu.

Intelectuais vomitam ideologias e ignorâncias repetitivas.

Meus olhos ardem, minha cabeça dói.

É tempo, subo as ruas da W3 Sul, subo as escadas, abro a porta,

O que há de mim agora?

Asfaltos, semáforo, sirenes roucas, uma flor na capital do país.

Ode ao povo!

Deus, que mal poema faço agora,

Esqueço as linhas dissecadas, esqueço o significado exposto,

Esqueço o segredo verde e amarelo

E o Brasil suspira novamente, agora nu, empedrado, áspero,

Esquecido.

Uma morena sorri para mim, um sorriso curto, mas ainda assim um sorriso.

Seu corpo violão goza no meu corpo franzino e fumamos o último cigarro na calada da noite, pelados, esquecidos.

La fora o outro lado da rua, o segredo e o bar, intelectuais, leitores, poetas,

A verdade e o país, jazem no escuro.

A vida não é mais vista.

Leonardo Ramos