Desencontro

Eu te amo. Meu coração é teu.

E te falo com veemência do meu amor com todas as linguagens humanas possíveis.

Mas, vejo sombrias reticências em teu olhar...

Em minha companhia, aconchegado em meu amor, tu te perdes em si, revive dores de amores passados, idealizas amores futuros.

Não sabes amar no presente.

Para mim, tão simples.

Se hoje, tua alma afina com a minha, se gostas de estar estar em mim, se sou tua confidente, se comigo choras e ri, se me falas dos teus planos e sonhos, se nos meus silêncios te sentes em paz, se rezas comigo, se estimas tanto o meu cheiro, o meu beijo, o meu gosto, o sabor e o bem que ele te traz... se me demoro em ir, tu sempre vens...

Que nome para ti, isso tudo tem?

Que tipo de cego és tu que não ouves a voz do amor vibrar na tua alma e emudeces diante de mim?

Não reconheces mais amor quando o encontras? Em ti? Em mim?

Ou o que chamas de amor é afeto resiliente envolvido em dor pungente, angústia e conflito?

Nao sabes viver amor apaziguador de forma calma, serena?

Agora sinto dó de ti...

Vais compreender sobre amar no presente quando eu for amor do passado.

Terás certeza que me amas assim que eu disser: amei-te ...

E talvez, com a próxima a te amar, falarás saudoso de mim, como um doce amor do teu passado, aspirando reencontrar-me no futuro, sonharás comigo ao teu lado.

É assim que estás acostumado a amar.

No descompasso. No desencontro...

Esse é o lugar do amor para ti.

Em qualquer lugar que não aqui, que não agora....

Não... agora não é mais dó de ti... é outro o meu sentimento!

Fôste insensivel com o meu amor, descuidou do teu passo. Ou estás atrás ou à minha frente. Nunca andas ao meu lado.

Não conheces do amor a cadência, o ritmo da reciprocidade, basta as mãos dar e caminhar. Tantas vezes te quis explicar, não olhes para baixo, não são os pés o ritmo a marcar, é o coração com o seu pulsar, que dita o compassar de quem no presente escolhe amar.

Fizeste ebulir um vulcão longamente adormecido em mim.

Lava de raiva incandescente antecede as cinzas da minha rendição e a fumaça da minha renúncia...

E nessa erupção te defino indigno do meu amor.

És o tipo, descrito pelo Khalil Gibran, que não te lembras que a terra gosta de sentir os teus pés descalços e que o vento anseia por brincar com o teu cabelo...

Não vou mais te amar. Desisti de ti...

O meu mergulho foi demasiado profundo na tua rasa capacidade de amar. Que desventura não saber ser amado, não se deixar inundar, permitir tamanho desencontro nesse tempo de amar. Percebi que se não sabes receber, tampouco saberás dar...

Como quem quer economizar amor e vida para um outro momento imagino que dizes a ti mesmo: talvez, mais tarde, eu ame, com o tempo...

Para me amar não ĥá outro tempo.

Só há o presente. Passado é presente vivido, futuro é presente por viver e o próprio presente é lapso de instante de tempo que deixa de ser assim que o é .

É nesse lapso, presente, que o meu amor acontece, só tenho esse tempo para viver e para te amar...

E tu desperdiças presente, vida, tempo, amor com reticências sombrias no olhar?

Tratarei de te desamar.

Silenciosamente.

A lava vulcânica, magma de raiva quente borbulhante, oriunda das profundezas do amor em mim se tornará rocha ígnea, dura, fria e linda... a ornamentar com um vermelho alaranjado deslumbrante o teu pálido presente. Já sou para ti passado.

Devolvas o meu coração.

Falarei do meu desamor por ti.

Te amei com veemência, em todas as linguagens humanas possíveis.

Tatiana Maíta
Enviado por Tatiana Maíta em 26/07/2024
Reeditado em 30/07/2024
Código do texto: T8114897
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