MINHA AMIGA, EU, E O POETA
Caminhava pela praia de Copacabana com minha amiga Lucia, quando ao longe observo um homem sentado num banco próximo à areia em posição reflexiva, conforme me aproximo o reconheço, nada mais, nada menos, que o grande poeta Carlos Drummond de Andrade.
Meio sem engraça por incomodá-lo, não me contive, me aproximei e disse a ele que amava suas poesias, e se poderia sentar ao seu lado para tirar uma foto. Gentilmente me estendeu a mão, agradeceu e disse que sim.
Enquanto minha amiga se preparava para fotografar, meio sem jeito, digo a ele que também gostava de escrever.
Na hora ele mudou de postura, e interessado perguntou sobre o que eu escrevia. Eu disse que dois romances, mas não havia encontrado editoras que se interessassem em publicá-los.
Ele me contou que também quando escreveu seu primeiro livro nenhuma editora se interessou, como não tinha recursos para fazer o livro, os amigos se cotizaram e pagaram a gráfica. Disse que era muito difícil entrar na panelinha das editoras.
Perguntou-me qual eram os títulos dos meus romances.
Eu disse que o primeiro era Chá de Jasmim, resumidamente a história de um jovem que se apaixona por uma moça bissexual que tinha uma namorada, a história se desenrola na cidade de São Paulo.
O outro Maestro das Ondas, história de um jovem engenheiro florestal que vai realizar um trabalho proteção ambiental na cidade de Paraty no litoral sul do Rio de Janeiro, e durante sua estada na cidade se apaixona por uma jovem e bela caiçara, filha de um pescador.
Ele perguntou o porquê eu coloquei esses títulos.
Respondi que o Chá de Jasmim, na China, é muito usado após as refeições para auxiliar numa boa digestão, e como a história de amor é vivida em uma situação difícil para o jovem, nada melhor do que um Chá de Jasmim para digerir essa dificuldade que a vida lhe impôs.
E Maestro das Ondas, porque a caiçara por quem o engenheiro se apaixonara, contava que seu pai quando vivo, depois que voltava da pescaria e trazia do mar o sustento da sua família, ia para o quiosque com outros pescadores e bebia muito. O homem era apaixonado por música, e em noites claras de luar, embriagado, se aproximava do mar e regia como um maestro a música que segundo ele as ondas traziam ao quebrar na praia.
O poeta ficou muito entusiasmado com as minhas histórias e pediu se eu poderia enviar a ele uma cópia dos originais dos dois livros, gostaria de ler, e se fosse bom ele me indicaria para algumas editoras.
Foi de uma humildade e generosidade ao conversar comigo que eu, um fã do poeta, me tornei encantado pela ser humano que era.
Minha amiga Sonia Lucia foi testemunha de toda nossa conversa, e a fotografa que registrou esse meu encontro inesquecível.
Levantei-me do banco, agradeci mais uma vez sua generosidade por me acolher com tanto carinho, nos despedimos, e feliz continuei a caminhada pela praia com minha amiga querida. Falamos o dia todo sobre o papo que mantive com o poeta e seus possíveis desdobramento.
Uma manhã linda de sol, com o Pão de Açúcar ao fundo como testemunha do nosso encontro.
(Texto inspirado na foto em que estou com a estátua de Drummond sentado em um banco na praia de Copacabana).