Sabemos como será nosso fim
Em um espelho embaçado pelo vapor, nosso reflexo pergunta o que já sabemos, mas tememos admitir. A rotina molda nossa existência em um ciclo que se repete sem fim, cada dia uma réplica pálida do anterior. Nos levantamos, nos vestimos e enfrentamos o mundo com um sorriso que não chega aos olhos.
Nas noites insones, o silêncio grita segredos que fingimos não ouvir. Aquele instante, entre o sono e o despertar, onde tudo parece mais real que a própria realidade, vislumbramos nosso fim. Não uma morte gloriosa, mas uma dissolução lenta e silenciosa, onde nos desfazemos em poeira e memórias esquecidas.
Nos vemos em um corredor infinito, nossas pegadas apagadas pelo vento do tempo. As paredes estreitam-se, sufocando sonhos e esperanças. Não há portas, não há janelas, apenas o eco de nossas próprias incertezas. O peso da existência nos curva os ombros, a vida passando como um trem que nunca para na nossa estação.
Sabemos, no fundo, que não há salvação, nem consolo. Apenas o abismo crescente dentro de nós, um buraco negro devorando cada fragmento de luz. Caminhamos, sabendo que o destino final é a escuridão. E, mesmo assim, continuamos, pois a única coisa mais aterradora que a morte é o vazio que carregamos conosco.
O espelho limpa. O rosto que vemos ainda é o nosso, mas os olhos refletem a verdade incontestável. Sabemos como será nosso...
...FIM