Quando eu te chamava, você ouvia? Éramos um Gustav Klimt

21 de mar. de 2013.

Estou vulnerável ao ritmo das canções que não ouvi. Estou triste de mágoas não sentidas. Além do interstício da persiana, não há nada lá fora. Estou tão só, como rua após chuva, como calçada por qual não passa. Sou portão cerrado de todos os jardins silentes e as heras espalhadas são meus medos. Dorme minha alma num dossel de glicínias mortas. Roubaram o sol estival, não que isso importe. Cerceei-me em segredo, aleijei a alma, amputei o coração, mas cerzi continentes porque te amo. O contracéu dos seus olhos tem a Lua que passo tanto tempo observando no telescópio? Eu já o conheci? Perdi-me voando sem pegadas, como irá encontrar-me agora? Na fragilidade dos orvalhos, coloquei a lágrima nunca chorada; no tempo, plantei seu nome para que você nasça. Nasça entre os escombros do que somos, construa o que não somos, vá por caminhos que não fomos. Tenho o talhe de um porto esquecido, chegue a mim como os fantasmas navios...

Para esperá-lo, ao meu coração menti. Então exista, por favor, exista! E de mim não desista. Foram feitas tantas músicas de amor para dançarmos juntos. Basta um pequeno espaço no mundo para nós dois, que guarde o nosso desejo e o imortalize em segredo, como a pintura de Gustav Klimt, o beijo.

Cibele Laura

Cibele Laura Oliv
Enviado por Cibele Laura Oliv em 20/07/2024
Reeditado em 20/07/2024
Código do texto: T8111220
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