eu não sei escrever

Eu não sei escrever, ligo para os bombeiros e eles inclinam uma escada contra o meu vocabulário em chamas. Olhando de perto, carece de espuma e maciez, minhas palavras não fluem mais como da última vez. O flash de uma câmera guardado no piscar de um olho é o sábado soprando a poeira das memórias. Minhas ferramentas não são chaves de fenda nem alicates, mas eu poderia encaixá-los em uma metáfora sobre como eu preciso enroscar os parafusos que mantêm os meus dedos escrevendo uma prosa. Indicador, anelar, mindinho, para o inferno com as rimas. Aqui é meu texto, de vez em quando me divirto com eles. Tenho a liberdade de nomear lugares, silhuetas e cores. Aquele arrepio que nasce no cotovelo e relampeja nas mãos, os passos mais firmes que damos quando os olhos já não podem acompanhar o horizonte, ou o gosto que sobra depois de um beijo, posso deitar sobre uma rede, entre a letra maiúscula e o ponto final. Estou mais aqui, nas palavras, que fora delas.