Há flechas que iluminam

Enquanto aqueço meus pés

Estou em um canto escuro de mim

Refletindo por qual caminho seguir

Relembrando de onde vim

A bússola, perdida

Em meio a tantas partidas

Afundo nesse inverno de dentro

E nesse silêncio escuto

Vozes de passageiros

Que comigo seguiram

A pressa de pensamentos

Formando frases e imagens

A dança dos sentimentos

Permito o sentir

Deixo as dores gritarem

As lágrimas caminharem

A alma tem algo a contar

Quer mostrar o que esqueci

Há flechas em todo o caminhar

Apontam elas, meu destino

Há fogo e estrelas que iluminam

A Terra em que vivo

Há o RespirAr

Que me preenche e esvazia

Ensina-me e me conecta

Ao poder de aqui estar

Há água que me leva e me rega

Movimenta e me conduz por rios e mares

Há natureza e florestas

A minha volta e em minha composição

Há pulso e uma chama acesa que me aquece

Luz que habita em meu próprio coração

E que cria cores nos encontros com os seres

Presentes dessa vida

E tudo isso diz

Que o caminho é o próprio caminhar

Que se faz com cada passo

E que ser feliz

É se permitir ser

E confiar na jornada

Fiar junto com quem nela chegar

Aceitar

As quedas, os erros, os tropeços

Cada imperfeição

Como parte do tecido

Que somos nós

E caminho para aprendermos

A sermos

Dou um passo

E vou

Planto as patas na terra

Chacoalho para fora a poeira

Desperto o corpo

E sigo inteira

Isso é:

Sigo com a bagagem que me cabe

Com meus ossos e barro

Meu ego e minha mente

Com as sombras do inconsciente

Meu coração e tudo o que sente

A intuição e cada sentido

Plantado e colhido

Com a luz que é a alma

Com todas as raízes e asas

Como passageira

Como consciência

Voo

[Já dizia Antonio Machado Ruiz:

"Caminante, no hay camino,

se hace camino al andar." ]