Nuvens
Eu pensei que já te amava de todo coração
no momento em que me encantei com o
espelho dos seus olhos, que refletia reciprocamente
todo o meu interesse.
Pensei que te amava ainda mais na hora em que
nossos corpos se uniram e passaram a dialogar
a mesma língua libertina que derrubou todos
os tabus que permaneciam escondidos no
inconsciente da nossa intimidade.
Tive plena certeza desse amor quando, chorando,
te pedi perdão, reconhecendo que a sua falta faria de
toda a minha existência algo sem propósito e
sem futuro.
Mas então descobri que o verdadeiro sentido
do amor está no ato de dividir o que nos pertence:
as responsabilidades,
as alegrias,
os segredos
e tudo o que a gente conquista.
Pois ao conquistar o céu,
eu te ofereci todas as nuvens,
e em cada uma delas você esculpiu
o formato dos nossos rostos.
Desde então, nenhum vento, trovão ou tempestade
conseguiu mudar a concreta forma dessas obras.