Sob a Égide do Sertão
Há oitenta e quatro anos, numa longínqua pré-primavera sertaneja, Getúlio Vargas, o homem que tomara o poder das oligarquias e o entregara ao povo, atravessou as estradas precárias e o calor abrasador do Nordeste. Ele, o "pai dos pobres", adentrou os sertões paraibanos, acompanhado de seus escudeiros fiéis, José Américo de Almeida e Juarez Távora. O Presidente, em meio à poeira e ao cansaço, chegou a São Gonçalo na noite estrelada de 14 de setembro de 1933.
O Hotel Catete, recém-construído, aguardava-o como um palácio de bem-vinda. O nome, em homenagem ao Palácio do Catete no Rio de Janeiro, simbolizava a grandeza da ocasião. A população, ansiosa, desejava ver o líder que, com firmeza, transformava o Brasil. Getúlio, com sua presença imponente, mas carismática, cumprimentou todos, deixando a marca de sua simplicidade.
Após um merecido banho, vestido com uma gravata vermelha e preto, as cores da bandeira paraibana, ele sentiu o sopro refrescante do aracati, aquele vento vindo do litoral cearense que aliviava o sertão nas noites quentes. Com seu inseparável chimarrão em mãos, o Presidente despachou com assessores no salão central do hotel, transformando aquele momento em um cenário quase onírico, onde São Gonçalo se tornava o centro do país, o verdadeiro coração do Brasil.
Na manhã seguinte, com a vitalidade renovada, Getúlio foi conduzido por José Américo para contemplar a magnífica barragem do açude. A visão do gigante de concreto, represando o rio Piranhas, encheu de orgulho o líder que mandara erguer aquela obra monumental. O sertão pulsava ao ritmo dos trabalhadores, os "cassacos", que naquele dia mostravam ainda mais determinação, conscientes de que o patrão os observava.
Getúlio deixou o Catete para seguir sua agenda, mas cada passo no sertão era marcado pela gratidão e pelo respeito mútuo entre o líder e o povo. São Gonçalo se encheu de saudade ao vê-lo partir na alvorada do dia 16, um sentimento que perduraria até seu retorno, sete anos depois, em mais uma primavera que acolhia o Presidente como um filho pródigo.
Em 1940, enquanto a Europa sangrava na guerra, o sertão da Paraíba chorava de alegria ao reencontrar o gaúcho mais nordestino que já conhecera. Getúlio Vargas, com seu carisma inigualável e sua presença transformadora, deixava um legado de esperança e de transformação, um marco indelével na história do sertão e na memória de seu povo. E assim, a narrativa de São Gonçalo e do Hotel Catete se entrelaçava com a trajetória de um dos maiores líderes da nação, perpetuando-se na eternidade dos corações sertanejos.
São Gonçalo, com suas paisagens de beleza árida e coração pulsante de história, viu-se transformada pela presença do Presidente. O Hotel Catete, erguido com a promessa de progresso e acolhimento, tornou-se mais do que um simples ponto de hospedagem: converteu-se em um símbolo de resiliência e esperança. Getúlio Vargas, ao caminhar por suas dependências, não só testemunhou a grandiosidade do sertão, mas também solidificou um laço profundo com o povo nordestino.
As noites no Catete, iluminadas por estrelas e pela esperança, foram marcadas pela troca de olhares e sorrisos entre o líder e os sertanejos. Aquelas paredes testemunharam promessas de futuro e narrativas de um passado que se recusava a ser esquecido. Cada conversa, cada decisão tomada ali reverberava pelo sertão, ecoando a força de um povo que encontrava em Vargas um reflexo de suas próprias lutas e vitórias.
A história de São Gonçalo, entrelaçada com a epopeia de Getúlio Vargas, permanece viva nas memórias dos que ali residem. O Hotel Catete, palácio improvisado, guarda em seus recantos as vozes e passos de um tempo em que o sertão se viu elevado à dignidade de capital da esperança. E assim, no âmago do sertão, a saga de Getúlio Vargas e o legado do Hotel Catete continuam a inspirar gerações, mantendo acesa a chama da história e da transformação.