AS MÁSCARAS

Na parede muito branca, havia duas máscaras: a da comédia e a da tragédia. Duas? Não, a mesma máscara. A mesma máscara que usamos sobrepostas. Somos dor e riso. Riso e dor. Uma encobre a outra, mas são sempre máscaras. Por trás delas, existe um rosto. Existe um rosto?... Muitos rostos??... Rosto algum??... Ou apenas uma massa informe, perdida e escondida atrás das máscaras, pois a identidade se desvaneceu...

Somos riso e dor; agonia e êxtase; bem e mal; felicidade e sofrimento supremo...

As máscaras se alternam, e outras vezes se fundem, sendo os olhos sorridentes e a boca um esgar de pranto. Outras vezes, rimos, mas nossos olhos choram...

As máscaras, ou se sobrepõem, ou se imbricam, de uma forma incontrolável. Lágrimas no riso... Riso em meio à dor...

As máscaras, tão semelhantes, embora aparentemente tão diferentes, nada mais são do que a mesma face... Talvez a única.

A alegria e a tristeza me olham, penduradas na parede... Os olhos vazados contemplam o vazio.

Os meus olhos sob as máscaras vão em busca de uma única direção, e olham somente para um único ponto no infinito...

As máscaras saltam da parede e aderem a mim.

Gostaria de alterná-las... Mas estão entremeadas de tal forma que é impossível dissociá-las...

E o “meu” rosto, onde está?...

Foi sufocado pelas máscaras e perdeu suas linhas e formas. Sou sem face. Tenho apenas olhos... Sou um grande par de olhos, brilhantes, úmidos, sentidos, que mudam de cor e de tom. Não tenho mais ouvidos: deixei-os com a música que um dia ouviram no passado, vindas dos lábios de um anjo que era anjo e ao mesmo tempo homem, que não está mais comigo!... Minha boca, que cantava, perdi-a entre beijos doces, muito ternos e, ao mesmo tempo, inflamados de paixão. Meu nariz se comprazia no odor de um corpo muito amado, que se foi...

Só ficaram os olhos...

Os grandes olhos por trás das máscaras, que não mais se alternam, mas se fundem em uma única máscara, formando um rosto, que é a dor e o sofrimento... Ontem, foram a alegria e o prazer... Hoje, só existem na saudade.

A tragédia e a comédia estão em mim... Máscaras vivas! Pesadas, colocadas para durar muito tempo, e esconder o rosto como aquela usada pelo Homem da Máscara de Ferro... É melhor sentir seu peso que tirá-las: aderiram ao rosto! O rosto deve estar desfeito, dilacerado... O sorriso só existe sendo falso, e a dor precisa ser abafada pelo sorriso. Ou em um gargalhar, ou esgar...

Máscaras! Somos apenas máscaras!

Não estão penduradas na parede!

Somos eu... E tu!...

09/01/2008

ESPERANÇA
Enviado por ESPERANÇA em 09/01/2008
Reeditado em 13/07/2012
Código do texto: T810557
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