Formigas no Túmulo
Em um recanto onde a luz e a sombra dançam uma eterna valsa, vivia um homem cuja alma era tecida com fios de sonhos e sabores. Sabia, com a serenidade de um sábio, que sua condição lhe custaria a vida: os médicos lhe haviam dito, num tom clínico e distante, que comidas e doces seriam sua perdição. Contudo, para ele, eram a essência da vida. Não porque buscava a morte, mas porque entendia que a doçura, em sua forma mais pura, era uma filosofia, um modo de existir.
Enquanto alguns viam o mundo como um mar de acidez e amargura, ele via doçura em cada canto: nas crianças brincando no parque, nas flores que desabrochavam, no nascer e no pôr do sol, nas fases da lua e até mesmo nas lágrimas daqueles que sofriam, pois nelas encontrava a pureza de emoções verdadeiras. Cada sobremesa que saboreava não era apenas uma indulgência, mas um ritual de apreciação da beleza efêmera da vida.
Caminhava pelas ruas da cidade com um sorriso suave, saboreando não apenas o açúcar da bala que derretia lentamente em sua boca, mas as histórias não contadas das almas que encontrava. Em suas mãos, um pedaço de torta de limão simbolizava mais do que um simples prazer culinário; era um lembrete de que até o mais azedo dos frutos pode ser transformado em doçura.
Seus amigos, preocupados, o advertiam constantemente: "Os doces te matarão". Ele apenas sorria e respondia com uma calma filosófica: "A vida é curta demais para não ser doce. Se a doçura me levar, que seja. Prefiro uma vida curta e doce a uma longa e insípida".
Viajava pelas paisagens de sua existência como um poeta em busca de versos ocultos. Cada confeitaria era um templo onde ele encontrava pedaços de eternidade. Cada docinho era uma prece silenciosa, um agradecimento à vida por permitir-lhe ver a beleza onde outros só viam dor.
A doença, longe de ser um fardo, era um mestre silencioso, ensinando-lhe a saborear cada momento, a encontrar a doçura escondida nos recantos mais inesperados. Assim, ele seguia sua doce viagem, consciente de que cada passo o aproximava do fim. Mas para ele não havia tristeza nessa jornada, apenas gratidão por ter vivido uma vida cheia de sabores intensos, uma vida que, apesar de curta, fora doce até o último suspiro.
No crepúsculo de sua existência, ele partiu com um sorriso sereno nos lábios, deixando para trás um legado de doçura e uma lição eterna: a de que a verdadeira doçura da vida está na maneira como escolhemos saboreá-la, mesmo quando o mundo nos oferece apenas amargura.
Fim