O tempo do amor em mim

A sede de essência me toma, grita, pedindo espaço e escuta.

Por isso escrevo. Não tenho pretensões de escritora. Escrevo só porque preciso.

É pura necessidade de expressão, de algo profundo e singular.

Preciso dar vazão a mim mesma...

Estou transbordando.

Deve haver outras formas de transbordar .

Essa é a que me ocorre no momento.

Há em mim uma necessidade de falar do essencial no viver.

De um viver sem véus, que ao se descortinar me impacta e encanta de tal forma que pede verbo.

Hoje, em especial, das minhas entranhas essenciais nasce um desejo enorme de falar sobre amor e sobre amar.

Venho refletindo sobre esse sentimento a medida em que o sinto vivo e escorrendo em mim.

Estou descobrindo sobre um tempo meu de amar...

Percebo que amar não está circunscrito ao espírito do tempo que habito.

Já não permito que o amor, o meu amor, tenha contornos e forma sob a influência do meu mundo exterior.

Já não aceito que o meu amor seja fruto de uma construção social relativizado pela minha circunstância.

Não...

O meu amor, esse que me brota na alma, numa nascente pura, doce, cristalina, não tem margens, nem bordas, não conhece nem obedece regras ou convenções .

Não se dobra a curvas. Constrói curvas.

Esse amor não se submete.

Nem a si próprio.

Me submete.

Submetida, rio...

Tenho experienciado e me deliciado com a minha capacidade de usufrir do meu amor.

Que a minha tosca capacidade de escrever não é capaz de expressar.

Não importa.

Atenta e surpresa, constato que nem sempre é preciso expressar o amor em palavras, ações ou manifestá-lo com qualquer outra linguagem.

Me encanta perceber que posso apenas desfrutar do amor que brota na minha alma, e se expande, manifesta sensação fisica, deleite...

Estar em mim, inundada de amor, caudaloso, recém brotado de uma fonte minha, é do que falo.

De experienciar da intimidade do meu próprio amor, é desse lugar que escrevo.

Da completude que uma nascente de amor na alma proporciona.

Da clarividência que traz.

Da capacidade de ver por sobre e além de...

Basta me deixar inundar...

Este amor, cuja nascente depende exclusivamente da minha capacidade de abrir poço interno.

Simples. Surje.

Reflito que, de certo, deve haver contribuições dos meus afetos no volume desse amor que em mim escoa.

Mas deles não mais dependo para fazê-lo nascente!

Não há condição para a sua existência em mim a não ser a minha permissão para que ele brote da minha fonte.

Que espanto!

E ao nascer, em mim, o meu amor me pede espaço, consciência, clareza, me amplia de tal forma que em forma de lagoa escrevo.

Para dizer que o amor é intrinsecamente um sentimento solitário.

Pertence a alma-fonte de quem ama.

Nem sempre urge direcioná-lo à margem, torná-lo afluente ou desembocá-lo no mar.

E hoje, nessa experiência sensorial e contemplativa constato: se não me arvorar em dar-lhe de pronto direção, ele simplesmente fica em mim...

Água doce.

Calma.

Tranquila.

Pacificadora

Nutridora.

Nesse estado amoroso tudo posso...

Matriz primordial do bem e do que é bom em mim...

O a priori necessário para qualquer expressão ou manifestação que me encante...

E hoje me encanta apenas a experiência consciente de ser lagoa antes de ser rio, de prolongar o senti-lo-em-mim... de o reconhecer nascendo, se expandindo, me inundando sem que haja ainda correnteza que o levará a outro lugar .

É o tempo do amor em mim.

Que antes de ser-vir precisa vir-a-ser.

Tatiana Maíta
Enviado por Tatiana Maíta em 09/07/2024
Reeditado em 09/07/2024
Código do texto: T8103057
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