Diluída
Olho para o céu, imenso de suposições e pergunto ao silêncio, por que vivo encapsulada nesse corpo pequeno e frágil… Logo eu que sou tão intensa. Dentro dele criei um mundo, meu mundo de guerra, paz e tantos questionamentos… Desenvolvi medos, mitos, muitos… Tantas angústias estocadas… Vivi paixões inventadas, as mais loucas em belas poesias… Sim, me fiz de poeta pra poder amar. Cresci muito que hoje vivo apertada, afrontada nesse templo minúsculo, porta aberta por onde vou me esvaindo, deixando aos poucos toda essa essência escapulir… Por isso, ando esquecida das coisas e da vida que inventei. É hora de partir, abandonar a caverna escura e descobrir o que há lá fora, além do muro que me separa das respostas e saber de fato se são as assombrações ou sombras das sobras do que fui e já não sou… mas, preciso ir e encontrar meus pedaços, minhas partes e me refazer, e me descobrir. Tenho longas asas emplumadas atrofiadas e careço voar… ir além desse mar sem limites, limitado por uma linha tênue, que tange ao toque do vento preciso. Preciso arrebentar essa linha e saltar com as águas geladas e num batismo divino me consagrar… É hora de acelerar a dor que arde dentro desse mundo útero que não me quer parir. Arreganhar as pernas, cortar o cordão de ouro dessa placenta seca anêmica e nascer em paz.
Preciso vencer essa guerra.
A cada contração, só eu e ela.
Marisa Rosa Cabral 06/07/24
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