INDIFERENÇA POSITIVA

Exercito minha indiferença contra o que me é hostil. Levanto muralhas mentais ao redor de meus tesouros, de minha sanidade. O silêncio é como o cume de uma montanha. De lá observo a tudo, envolto em nuvens. Intocável, inalcançável. Longe demais para ser visto, mas com uma visão privilegiada. Faço-me plateia, assistindo de camarote ao jogo das relações, das intenções. Conservo meu eu sendo outro, vendo-me de fora. Pois minha força é fazer da minha mente um forte. E se pareço soberbo, arrogante, é por ser mal interpretado. Assim procedo apenas para reverenciar a atenção, e finalmente, ao que dela se prove digno. Quero trilhar um distanciamento consciente, como quem faz do próprio corpo uma torre de vigília. Quero as asas do espírito, voar livre sobre as areias movediças, além da peçonha rastejante. Quero a serenidade ativa, a indiferença positiva. Quero a liberdade íntima, a emancipação do julgo alheio.