MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE UM ABORTO

Certo dia encontrei-me imerso em um lago vivo quando a companheira do silêncio e da calma aproximou-se e disse-me: _ Gostaria de falar-ti. Em resposta eu pulsei dizendo que era fraco para ouvi-la, mas ela retrucou. _ Todos os homens são fracos, por isso têm medo de mim e me evitam, mas sendo tua única e verdadeira companheira no momento, te darei alguns conselhos; uns doces para o teu Idi, outros, amargos para teu superEgo, mais tarde talvez façam bem ao teu Ego, se é que já tens os três.

Pensando que nossa amizade seria curta pois a presença dela me incomodava, consenti-lhe a palavra. Ela prosseguiu:

_ Mentes a ti mesmo e a verdade jamais será tua amiga; a hipocrisia será tua defesa. Assustei-me, porém ela não se deteve. _ A fantasia será um meio de fuga da verdadeira realidade que ti cercará. Cometerás erros para saber que és um humano aprendendo, se persistires a errar saberás que és um humano que precisa da ajuda de outro. Correrás atrás de elogios, autoafirmação e autojustificação para os teu atos, porém não serão os homens que ti darão a verdade sobre o que buscas e nem tu realmente saberás o que busca, logo cada conquista aumentará tua ambição ao desconhecido. Não pense que estarás aprendendo a viver, mas sim a morrer, como bem morrer... como mal morrer... esse será teu verdadeiro e irrevogável direito. _ A...?

_ Os “perderosos” farão discursos e mais discursos para ti atribuírem direitos e deveres, hipócritas! Apenas amaciarão teu ego por um breve momento. Assim amarás os que o elogiarem e ti sorrirem, odiarás os teus inimigos sem mesmo conhecê-los, mas logo não saberás discernir quem é quem, até que o vazio e a angústia tomem conta de ti. _ B...?

_ Não questionarás a verdade dos que ti falarem, mas sim a verdade dos que se calarem. Procurarás preencher o vazio buscando muito conhecimento, ou gastando teus vícios, tuas virtudes no tempo passageiro que diante da eternidade não passa. Procurarás respostas para o motivo de viver e como um "cadáver adiado" estarás farto de muitas coisas. _ O...?

_ As boas lembranças serão poucas e breves na tua velhice, mas elas ainda voltaram a tua mente, embora os "sonhos não regressem mais ao teu coração". Não desista do pouco tempo que ti restar para descobrir um pouco mais, não mais coisas de dor, mas, coisas de amor, sentimento esse que tu nem conhece ainda e já te negam. Saiba que no fim do teu tempo diacrônico perceberás que tudo é apenas um sonho do Grande Criador, e tu estarás perto de acordar quando teu corpo for todo silêncio. _ R...?

_ A força desconhecida e indesejável virá ti despertar para o outro lado... onde só há manhã... ou só noite. Ela ti acordará para o ainda indelével, inefável e incomensurável para os perderosos, poetas, filósofos, religiosos, mas não a você que ainda não buscou, ansiou, pensou e sonhou. Sem saber tu estavas lá, e agora está acá, feliz... feliz por não precisar guardar os conselhos que ti dou, pois não terás o dever de amar... nem odiar... apenas ignorar os que se dão ao direito de tirar os teus... de aprender a viver? Não! _ De aprender a morrer. _T...?

Ela se calou... ante as muitas vozes eu fiquei a escutar o eco do meu silêncio... _ O.

Jessenc
Enviado por Jessenc em 24/06/2024
Reeditado em 24/06/2024
Código do texto: T8092950
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