Nostálgicas Prosas
Saudades tenho da minha antiga literatura. Havia naquelas sombras monótonas uma essência de paz a qual jamais senti. Desejo carnívoro em dissipar a tristeza de mim; eu sentia o mármore das descobertas esculpir as turvas linhas da inquietação. Branda nostalgia o meu coração bate como que se quisesse esquecer o tempo. Como se esculpisse eternidade.
Os dias de outrora eram negrumes de sonhos. Os pesadelos inconscientes molestavam-me. Recordo do enervo espiritual dos problemas joviais da minha idade; ah, como eu era tolo! Como gostaria que a existência me desse apenas problemas pífios. Ela oferta a indecisão metafísica do homem racional. O que há de ser as coisas do mundo? Quem sou eu? O que vale de fato? Incógnitas e mais incógnitas, em espiral cósmico que nos engole a nada.
A tarde nunca calou os anseios que o meu mundo grita. Passo diante às ruas de cavaleiros de quatro rodas; relincham as buzinas irritantes em corais do inferno. As nuvens pintam quadros abstratos como sempre. O calor mediano de hoje exclama a todos a candura de paz simples. Os raios do Sol me impossibilitam olhá-lo. Mas para mim, os segredos ocultos da consciência lunar são viciados em se mostrar. Os livros e as informações não se casam em respostas — Onde raios o oráculo que tanto procuro está!? “O mundo é mundo, ora”, é o que o meu instinto mais animal responde. Mas replico: “por que existir?”, e vem a tréplica do espelho do banheiro que não me revela a face: “para não existir respostas como estas”. Cai a água do chuveiro em torrente sobre mim. É na quentura relaxante do banho que lava os mistérios inúteis. Encaro a luz da lâmpada, circular como o Sol que não se vê. Encaro mais, até cegar, e cego agora os pensamentos quadrados. Onde raios está a ilusão que tanto procuro?