Escuta?

Pensou que escorria dela o tempo

Mas quando enxergou de fato

Percebeu que era seu próprio sangue

- Ali, vermelho, um grande rio

Derramou nele lágrimas

E o viu transformar-se em mar

Achou estar perdendo espaço

Com tantos achismos sobre sua vida

Mas o que faltava era o ar

Em seus respiros

E os giros que a permitiam olhar

Por outras perspectivas

Tentou adentrar caminhos

Que não eram os dela

E desistiu de ser quem realMente era

Calou e esqueceu-se de sua voz

Enquanto outras tantas gritavam

Em seu interior e ao seu redor

Não conseguia mais ficar a sós

Foi quando ouviu

-E de fato escutou-

Um sussurro

Sentiu sua vibração

As batidas e o pulso

E recordou:

Do sangue, do ar, do ser, da voz

De soltar-se das amarras e da prisão

De julgamentos próprios e alheios

Da liberdade de ser quem se é

Dizem que agora ela segue

Por florestas e desertos

Cachoeiras, rios e mares

Pelos ares

Como águia ou passarinho

Pelas pedras do caminho

Pela terra

Como onça, criança ou velha

Com o fogo que aquece e ilumina

Que conecta ou transmuta

Como sacerdotisa ou bruxa

Dançando em tempestades

Abraçando a chuva

Tornando-se árvore

Ventando sementes e ervas

Soprando em seu caminhar

O sussurro que antes ouvira

E que a trouxera de volta

Seja ela sol ou lua

Seja de barro, pedra ou de pena

Tenha ego e corpo

Não importa

Segue com sua mente, coração e pernas

Com algo de próprio

E do todo

Segue Alma e consciência

Segue viva

Com a força de um ser

Conectado ao seu destino

Com brilho

Criando seu caminho

A cada passo, mergulho, queda ou voo

Respirando

E Sussurrando

Aqui e aí...

.

.

Escuta?